São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997 |
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Sem-terra ameaçam reagir se PM tentar desocupação
DANIEL BRAMATTI
Os sem-terra, cercados pela PM, estão armados com coquetéis Molotov (bombas de gasolina) e "instrumentos de trabalho" como foices, machados e facões. "Nós não temos casa, nem emprego, nem terra. Somos os sem-nada. Não temos motivo nenhum para sair daqui, mesmo com o risco de perder a vida", disse José Ferreira, o "Zé do Facão", um dos líderes do acampamento de sem-terra, erguido no último dia 1º de dezembro. Segundo Ferreira, entre os acampados estão cerca de 150 crianças e adolescentes, além de 20 mulheres grávidas. "Se houver um massacre, os responsáveis serão o governo federal, o governo estadual e o juiz Renan de Arimatéia Pereira", afirmou Ferreira. O juiz, da comarca de Itaberaí, é o autor da ordem de desocupação. Ele foi procurado por representantes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do governo de Goiás, que pediram uma prorrogação no prazo, mas não atendeu à solicitação. O acampamento fica a cerca de quatro quilômetros da sede da fazenda, onde estão instalados aproximadamente 50 policiais militares, encarregados de vigiar o acesso e a saída do local. "A polícia fez disso um campo de concentração. Não podemos sair e até helicópteros ficam nos vigiando", disse "Zé do Facão". O cerco, porém, é rompido diariamente. A cerca de dois quilômetros do acampamento, a reportagem da Folha encontrou um grupo de sem-terra que se dirigia à cidade, para buscar mantimentos. Eles afirmaram que se utilizam de caminhos alternativos para não ter de passar pela sede da fazenda. Dois dos acampados estavam em motocicletas. Mesmo que o cerco fosse eficiente, não faltariam alimentos no acampamento. Os sem-terra fizeram recentemente a primeira colheita de arroz e feijão produzidos na fazenda. Segundo "Zé do Facão", foram colhidas cerca de 520 sacas de arroz e 380 de feijão, além de "vários balaios" de milho. O impasse em relação à fazenda Santa Rosa já dura um ano e três meses. Os acampados desocuparam pacificamente a fazenda em três ocasiões, mas voltaram a invadi-la, "para não ficar comendo poeira em beira de estrada", segundo Gervano Antônio, um dos sem-terra. Prazo O Incra pediu mais prazo para a desocupação porque está à espera de uma decisão da 4ª Vara da Justiça Federal, de Goiânia, a respeito de dois laudos contraditórios. Um deles, do próprio Incra, atestou que a propriedade é improdutiva. Outro, de peritos judiciais, afirma o oposto. Se a área for improdutiva, deve ser desapropriada. Caso contrário, o Incra admite comprar a fazenda (pagando em dinheiro, e não com Títulos da Dívida Agrária) para assentar os sem-terra. Texto Anterior: Notícias positivas Próximo Texto: Juiz descarta adiar retirada de famílias Índice |
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