São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novos pólos inibem sindicato 'estilo ABC'

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "estilo ABC" de sindicalismo tende a não se repetir nos novos pólos industriais que vão se formando pelo país. No ABC, os sindicatos ainda têm grande penetração entre os trabalhadores e muito poder de negociação.
A forma como as empresas estão se organizando nessas novas regiões, acreditam eles, deve inibir o surgimento de um sindicalismo mais atuante e organizado.
Essas empresas, ao se instalarem em Estados como Ceará e Paraná, optam, na maioria dos casos, por fábricas com um menor número de trabalhadores e pela terceirização de boa parte dos serviços.
"As fábricas que estão sendo montadas não empregam mais milhares de trabalhadores como as do ABC. As empresas terceirizam, contratam de forma dispersa, o que dificulta a ação sindical", afirma o economista Cláudio Dedecca, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.
Dedecca dá o exemplo da fábrica da Volkswagen em Resende (RJ). O consórcio modular adotado pela montadora reúne cerca de 16 empresas no mesmo local de produção. "Apesar de os trabalhadores estarem na mesma fábrica, eles não pertencem à mesma empresa. Pertencem a várias e têm uma relação diferente com a produção."
Além disso, lembra o economista, o aumento do desemprego compromete a atuação dos sindicatos, porque enfraquece a capacidade de reação dos trabalhadores.
Antônio Prado, técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), afirma que as empresas vêm utilizando, nos últimos anos, várias técnicas para disputar a liderança dos trabalhadores com os sindicatos.
Para Prado, essa disputa enfraquece o movimento sindical e as relações entre empresas e trabalhadores. "Mas a tendência é que os sindicatos se tornem mais organizados. Talvez não tanto quanto os do ABC", acha.
Por enquanto, as entidades sindicais nessas regiões enfrentam dificuldades para expandir sua influência sobre os trabalhadores.
Excesso de mão-de-obra
No Ceará, os sindicalistas afirmam que as políticas assistenciais das empresas, o desemprego e a terceirização afastam os trabalhadores das entidades.
O diretor do sindicato dos sapateiros do Ceará, Valmik Ribeiro, diz que o excesso de mão-de-obra faz com que parte das indústrias que se instalaram na região contrate seus funcionários em regime de cooperativas, sem se responsabilizar por direitos trabalhistas.
Ribeiro diz também que as empresas que trocaram o Centro-Sul pelo Ceará são as que mais dificultam a ação sindical, por meio de ameaça de demissão e suspensão de empregados (ver outro texto).
Isso faz com que o número de sindicalizados nessas fábricas seja pequeno. Na Grendene, por exemplo, só 12 dos 1.500 trabalhadores são filiados ao sindicato.
Em Betim (MG), a Fiat prefere contratar novos empregados indicados por funcionários com mais de cinco anos na montadora.
Para o diretor de Relações Trabalhistas da Fiat, Osmani Teixeira de Abreu, isso aumenta o vínculo dos funcionários com a empresa.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Paulo Moreira dos Santos, é uma forma de inibir a atuação sindical.
No Paraná, um dos argumentos do governo para atrair montadoras foi a ausência de greves. De fato, em janeiro os trabalhadores da Volvo fizeram sua primeira greve em dez anos. Em 20 anos, houve apenas três greves na montadora.

Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal do Rio

Texto Anterior: Consenso pode levar a erro
Próximo Texto: CNM defende contrato
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.