São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Imigrantes chineses deixam a Austrália

The Independent
de Londres

ROBERT MILLIKEN
EM SYDNEY

O caso de amor entre os imigrantes de Hong Kong e a Austrália esfriou. Menos de quatro semanas antes de o Reino Unido devolver Hong Kong à China, milhares de chineses estão fazendo as malas para deixar o país da sorte, convencidos de que poderão ganhar mais dinheiro na ex-colônia britânica, mesmo que sob um governo comunista.
"Na década de 80, quando Margaret Thatcher anunciou que o Reino Unido iria abrir mão de Hong Kong, era moda emigrar", conta Owen Yue, 40, planejador de transportes que chegou a Sydney, vindo de Hong Kong, em 1990. "Agora é moda voltar."
Os números falam por si. Enquanto há alguns anos Hong Kong praticamente não enviava chineses à Austrália, no ano passado foi o quarto na lista dos que enviaram mais, perdendo apenas para a Nova Zelândia, o Reino Unido e a China.
Mas, no último semestre do ano passado, quando o prazo final para a passagem de Hong Kong à China começou a se aproximar, o número de candidatos a ir para a Austrália caiu em um terço.
E até mesmo os que já conseguiram a residência permanente na Austrália começaram a testar o clima reinante em sua terra de origem. Segundo o Conselho de Desenvolvimento Comercial de Hong Kong, órgão do governo do território, no ano passado quase um terço dos 100 mil integrantes da colônia de Hong Kong na Austrália voltou ao território para trabalhar, embora conservassem seus passaportes australianos.
Os imigrantes dos anos 90 são de um tipo diferente da primeira onda de chineses atraídos pela corrida australiana ao ouro, na década de 1850. Nesse intermédio foi implantada a política de imigração exclusivamente branca à Austrália, que barrou o ingresso de não-europeus no país até ser abolida, há 25 anos.
A última leva de imigrantes de Hong Kong é composta por profissionais qualificados e empresários abastados, que deverão transferir cerca de 780 milhões de dólares australianos (US$ 596 milhões) de Hong Kong à Austrália este ano.
Boa parte desse dinheiro será investido em propriedades imobiliárias ou em restaurantes como o Shark Fin (Barbatana de Tubarão), no bairro chinês de Sydney, tão grande que os garçons se comunicam por walkie-talkies. Mas, para muitos profissionais liberais, como advogados e engenheiros, as perspectivas de trabalho não têm sido boas na Austrália, onde o índice de desemprego não ficou abaixo dos 8% desde a recessão do início da década.
Atraídos à Austrália em função de sua estabilidade política, num momento de incertezas em Hong Kong, essas pessoas decidiram, agora, que a situação provavelmente continuará semelhante depois de 1º de julho, pelo menos durante os próximos anos, e estão retornando a Hong Kong para trabalhar, deixando suas famílias na Austrália.
Os advogados, por exemplo, podem ganhar seis vezes mais em Hong Kong, onde os impostos são mais baixos.
Outro impacto negativo sobre a imigração de Hong Kong se deve à ascensão da política racista na Austrália sob a égide da deputada independente Pauline Hanson, de Queensland. Hanson vem promovendo uma campanha cada vez mais acirrada contra a imigração asiática, a garantia de seguridade social para os aborígines e os investimentos estrangeiros.

Tradução de Clara Allain

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