São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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O professor está nu

GILBERTO DIMENSTEIN

Depois do passeio pela montanha, professor e alunos, todos homens, mergulham pelados na piscina de água quente natural -e aprendem como ganhar dinheiro.
Descontraídos, conversam sobre como administrar uma empresa, transformando-a em foco permanente de inovação.
Reverente, os alunos massageiam as costas e os pés do professor, imersos na água. Justificativa pedagógica: tomar banho sem roupa simboliza confiança e importância de se trabalhar em equipe.
O leitor provavelmente imagina que o mestre é alguém exótico, pervertido ou maluco. Errado.
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O professor em questão é o japonês Hirotaka Takeuchi, 50 anos, que virou guru nas universidades americanas de administração.
Diante do impacto de suas idéias, Takeuchi foi chamado a dar cursos em Harvard. Seus livros são leitura obrigatória de empresários e executivos.
O último deles se chama "Knowledge-creating Companies" ("Empresas que Criam Conhecimento"), escrito em parceria com Ikujiro Nonaka, de quem é discípulo. Nonaka também entrou para a galeria dos gurus. A Universidade da Califórnia inventou para Nonaka a cadeira de professor de "conhecimento".
Ambos ensinam como o conhecimento deve ser gerado e compartilhado numa empresa, baseados em experiências bem-sucedidas no Japão.
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Tão original quanto seu discípulo, Nonaka aconselha os empresários americanos a não empanturrar os empregados com trabalho e rotina.
A inovação empresarial e a criatividade dos funcionários depende de tempo livre para sentar e trocar idéias num ambiente descontraído, compartilhar experiências. Aí estaria a fonte de novas soluções.
Rotina e sobrecarga de trabalho seriam inimigas da criatividade, fundamental num ambiente supercompetitivo. Tradução: esgotamento do trabalhador traz prejuízos econômicos.
O sucesso da empresa dependeria, segundo Nonaka, de que a inovação surgisse do trabalho conjunto e não só dos iluminados em cargos de chefia. Implicaria, portanto, democratizar as relações trabalhistas.
Daí se entende o simbolismo da piscina de água quente. "É necessário cultivar o sentido de unidade e confiança", afirma Hirotaka.
"Podem aportar que o futuro está aí. Empresas que não virem seus funcionários, do mais alto executivo ao mais humilde funcionário, como produtores de inovação, estão sob risco", afirma Sérgio Amad Costa, professor de recursos humanos da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
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Autor do recém-lançado "A Prática das Novas Relações Trabalhistas", , Costa é também consultor de empresas. Ele acredita que mais e mais empresários brasileiros sabem que está nascendo um novo tipo de trabalhador.
Exemplo: ele assessora uma construtora paulista interessada em elevar o nível educacional dos operários, colocando um novo item no contrato de trabalho. O plano é oferecer dinheiro para quem estudar.
Uma empresa de telecomunicações de Curitiba (Inepar) oferece a seus empregados gratuitamente cursos no Brasil e no exterior. Quem ensinar algo de valor a seus colegas (inglês ou manejar a Internet, por exemplo) ganha pontos para conseguir mais rapidamente esses benefícios.
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A luta pela sobrevivência no mercado mundial está moldando a agenda brasileira.
Prova disso é uma série de documentos, ainda reservados, que tentam influenciar a nossa elite empresarial, mostrando a importância de se investir em cidadania. Cidadania é apresentada como instrumento indispensável de desenvolvimento econômico.
Os textos foram preparados a partir do debate entre empresários e pensadores como o economista Eduardo Gianetti e o educador Walfrido Mares Guia, responsável pela revolução educacional de Minas Gerais. Do debate saiu a base de idéias para o encontro, no próximo dia 18, dos 112 mais influentes empresários brasileiros integrantes do Fórum Empresarial, reunido pelo jornal "Gazeta Mercantil".
Os empresários vão defender que prioridade social não é hoje questão de bondade, mas de sobrevivência.
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Mares Guia convenceu os empresários da importância de se ensinar filosofia nas escolas para preparar o trabalhador do futuro. Numa definição irretocável, ele diz: "O fundamental hoje é o indivíduo aprender como aprender".
E os idiotas do pessimismo ainda teimam em não ver como o Brasil está mudando. Vão ficar falando sozinhos.
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PS - Separei por e-mail texto em inglês com idéias do professor Hirotaka Tekeuchi. Na próxima semana estará disponível também em português.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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