São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Caiu na rede...

ADRIANA VIEIRA; CASSIANO ELEK MACHADO; DEBORAH GIANNINI; GABRIELA MICHELOTTI; LAVÍNIA FÁVERO; LEANDRO CONTI; NAIEF HADDAD; TATIANA REZENDE

"O Venice surpreende pela quantidade de homens, mas a maioria só fica olhando. Poucos chegam para conversar. E, se uma mulher se aproxima, acham vulgar".
A repórter Lavínia Fávero
"No O Leopolldo, as meninas só conversam com quem for apresentado pela turma. Elas dizem ter medo de desconhecidos."
O repórter Leandro Conti
"Mesmo sem a mulher olhar, os homens já se aproximam. Alguns tentam fazer piadinhas, outros elogiam. Mas a maioria tem namorada e está lá escondido."
A repórter Deborah Giannini, no Dado Bier
"Alguns homens já chegam pegando, passam a mão no cabelo, querem beijar. E fazem isso com todas. Nem se importam se a menina que ele acabou de cantar o veja aplicando o mesmo golpe com outra."
A repórter Adriana Vieira, no Venice Grill
POR ADRIANA VIEIRA, CASSIANO ELEK MACHADO, DEBORAH GIANNINI, GABRIELA MICHELOTTI, LAVÍNIA FÁVERO, LEANDRO CONTI, NAIEF HADDAD E TATIANA REZENDE
Faltam quatro noites para o Dia dos Namorados. Já bateu o desespero? Calma. A Revista da Folha foi a campo por uma semana para mapear os lugares da paquera em São Paulo, incluindo litoral e montanhas. Oito repórteres -cinco mulheres e três homens- serviram de isca para descobrir também como agir na hora da "pesca".
Conseguir um "peixão" é raríssimo. Por outro lado, terminar a noite sem nenhum "bagrezinho" é quase impossível. O segredo, como o do bom pescador, é cevar o lugar certo. E ter paciência.
Não adianta só jogar a linha e ficar parado. Algumas regras básicas da nova paquera ajudam:
1. Tente falar
A principal reclamação das mulheres é a afasia masculina. Os homens chegam perto e balbuciam: "E aí, princesa?", "O que você está bebendo?" ou "Já vai embora?".
Elas reclamam também que logo depois dessa aproximação nada original, começa um verdadeiro interrogatório: seu nome, onde trabalha, onde mora, onde passa as férias.
"Os homens são muito ansiosos. Já chegam fazendo um monte de perguntas e depois querem saber se vamos ficar com eles. Assim não dá", diz a comissária de bordo Luciana Crispim, 22, que dançava terça-feira à noite no bar Enfarta Madalena (Vila Madalena).
Os clássicos "O cachorrinho tem telefone?" e "Não te conheço de algum lugar?" foram arquivados, mas não surgiu nada melhor no lugar.
Estela Castilho, 22, amiga de Luciana e também comissária de bordo, decreta: "Um cara que saiba cantar a mulher nunca fica sozinho". Na terça-feira, Estela chegou sozinha ao Enfarta Madalena e saiu acompanhada.
Arriscar uma abordagem romântica muitas vezes dá certo. A publicitária Daniela Mel, 23, cabelos loiros até a cintura e olhos verdes, que passava o fim-de-semana em Camburi (litoral norte), conta que ficou encantada quando, em um dia nublado, um garoto na praia lhe disse: "Loira, traz o sol para mim".
"Parece que hoje não existe mais galanteio. Os homens não sabem tratar as mulheres. Eles falam as mesmas coisas que você ouve ao passar em frente a uma obra", afirma Greta Krause, 23, amiga de Daniela e também publicitária.
2. Não tente ser engraçado
Há uma enorme diferença, segundo as mulheres, entre ser simpático e metido a engraçado. A repórter Deborah Giannini ouviu, no Bar do Meio, em Maresias (litoral norte), o seguinte "xaveco":
"- Você está convidada para a minha festa.
- Quando?
- Quando eu marcar, eu te aviso." Risos (só dele).
Em alguns poucos casos, uma entrada à la Tom Cavalcante agrada. O dentista Cristian Canova, 24, fez sucesso na cervejaria Dado Bier (Itaim), fingindo-se de surdo-mudo.
Usando o alfabeto manual, ele conseguia ficar sério, enquanto parecia querer dizer alguma coisa. As garotas demoravam a entender se era mesmo brincadeira e riam muito quando ele começava a falar. "Frequento o Dado Bier há oito meses. Venho sempre com quatro amigos porque é um bom lugar de paquera. Saio conversando com todas as mulheres normalmente. Não dou em cima de cara", diz Canova.
3. Segure suas mãos
A maneira mais fácil de "queimar o filme" é ir pegando logo na garota. Elas odeiam o tipo pegajoso, que rapidamente começa a mexer no cabelo, segura na mão e tenta dar um beijo.
A repórter Tatiana Rezende foi abordada pelo estudante de administração de empresas M.E., 19, no clube B.A.S.E. (centro). Depois de 10 minutos de conversa, ele passou a mão no seu pescoço e já tentou um beijo. "Minha técnica é a tradicional. Pergunto o nome, faço uns elogios, jogo indiretas e vou tentando aquelas conversinhas", diz M.E., que pede para não ser identificado porque tem uma namorada no interior.
Apesar de em geral se "dar bem", ele afirma: "As mulheres ficam com quem elas querem. Nesse jogo, são elas que mandam".
4. Mulheres devem esperar
Embora soe machista, essa é ainda a regra. "Quando a esmola é muita, o santo desconfia", diz o professor de educação física Hilton Nascimento, 26, que estava na terça-feira no bar Venice, reduto de surfistas na Vila Madalena. "A mulher só deve dar um olhar sutil."
As universitárias Gerusa Castro Reis, 21, e Juliana Leite, 22, também no Venice, reclamam da "caretice" masculina: "Eles acham que, se a mulher tiver um copo de cerveja na mão e der bola, não presta. Nunca namoramos caras de casa noturna e nem temos a intenção".
Estela Castilho, a comissária do Enfarta Madalena, afirma: "Eu não chego em ninguém porque é trabalho do homem chegar. Para a mulher, não pega bem".
Se elas não devem tomar a iniciativa, nada impede que dêem todos os sinais. Olhar e até encarar é a tática mais usada. Quando o olhar for correspondido, sorria. No máximo, segure um cigarro apagado na esperança de ele vir acendê-lo.
5. Não conte mentiras
Reprima sua imaginação e não invente histórias. A repórter Adriana Vieira foi abordada pelo professor de educação física Cássio, 29, no Bar do Meio, em Maresias. Sem ser convidado, ele sentou-se no braço da cadeira e começou a puxar conversa. Disse que "vive de herança" e que "tem muito medo de sequestro".
Quando soube que estava sendo entrevistado para a Revista, ficou sem graça, não quis revelar o sobrenome, mas não desistiu de tentar beijar a repórter.
Na cervejaria Dado Bier, a mesma repórter foi "puxada pelos cabelos" por José, 22, que pediu: "Meu amigo, que é modelo espanhol, está louco para te conhecer". O tal amigo -na verdade, o guia turístico Evandro Valentim, 21- ainda arriscou: "Estoy enamorado".
Se você liga para status, não se encante por quem se identifica como "executivo de uma empresa". Qualquer homem de paletó e celular, que trabalha em uma sala com ar-condicionado, se inclui nessa categoria, principalmente depois de alguns chopes.
6. Arrisque uns passos
Mesmo quem não faz o tipo John Travolta deve ficar perto das pistas de dança. O escuro ajuda os mais tímidos. Você não precisa nem falar, é só ir se aproximando.
Um encontro na pista de dança do bar Metrópolis (av. Paulista) resultou em um romance rápido, de seis meses, mas suficiente para que a secretária Regina Célia da Silva Souto, 27, tivesse uma filha, hoje com um ano e meio.
"Eu estava na pista de dança, e ele começou a imitar os meus passos. Me chamou para dançar junto. Conversamos e aí aconteceu", conta Regina.
"Foi tudo rápido, mas era como se eu o conhecesse há anos. Tem gente que vive junto há cinco anos, mas não sabe quem é o marido", diz a secretária, que "vai agora ao Metrópolis apenas para levantar o astral".
A estudante de medicina Lívia Barros, 24, que dançava na apertada e lotada pista do bar Brancaleone (Vila Madalena), em uma segunda-feira, disse que quando se interessa por alguém, procura dançar ao lado da pessoa.
7. Seja cavalheiro
Ofereça uma bebida ou o seu lugar para ela sentar. Parece antiquado, mas funciona.
No Bar do Meio, em Maresias, a aproximação aconteceu na base da gentileza. Quando as repórteres chegaram, o lugar estava lotado. O "personal trainer" Rodrigo Cunha, 33, se levantou, disse que estava deixando a mesa e ofereceu as cadeiras. As repórteres se sentaram, mas ele continuou por ali e começou a puxar conversa.
No litoral, a primeira pergunta só poderia ser: "Onde você pegou praia hoje?", seguido do indefectível comentário "Tempo ruim, né?".
"Quando quero conhecer uma menina em uma casa noturna, chego oferecendo bebida e, depois, vou direto ao assunto", diz o estudante de direito Marco Lessa, 24, que estava segunda-feira no bar Venice, com os amigos.
8. Frequente parques
É um erro imaginar que só se "pesca" à noite. Os parques, principalmente o Ibirapuera, é considerado lugar privilegiado para encontros.
Na tarde de quinta-feira, dia 29, feriado, as estudantes Gabrielle Buger, 17, e Daniela Zanivan, 17, passeavam sozinhas na pista de cooper do Ibirapuera. Suas roupas não eram propriamente esportivas: jeans, blusa justa, tênis, maquiagem.
As duas dizem que vão sempre ao parque para andar, mas, se rolar uma paquera, "também faz parte".
Meia hora depois, em outro trecho da pista de cooper, elas já estavam sendo acompanhadas por um rapaz de bicicleta. Os três pararam para conversar e, depois de alguns minutos, trocaram bilhetes. "Os caras sempre mexem com a gente", conta Daniela.
A psicóloga Simone Lopes, 28, já arrumou três namorados no Ibirapuera. "Aqui é melhor do que nas casas noturnas. Vou muito ao B.A.S.E, Moinho Santo Antonio e Florestta, mas só rola papo bobinho. No parque, as pessoas são mais maduras. Tem muito esportista e empresário", aconselha.
As cariocas Renata Bandeira de Melo, 21, estudante de direito, e Mônica Muniz, 25, também defendem a paquera ao ar livre, de preferência na praia. "As pessoas estão com pouca roupa e de cara limpa (sem beber), por isso são mais autênticas. Fica mais fácil reconhecer como a pessoa é de verdade, sem disfarces", diz Mônica, que não hesita em pegar a ponte aérea para "curtir" um fim-de-semana aqui.
"A gente vem se divertir, nunca para arranjar alguém, os paulistas pensam que queremos azarar, mas estão enganados", garante Mônica, que dançava sábado à noite no O Leopolldo.
9. Elogie, mas sem exageros
Para aproximar-se da repórter da Revista, no Dado Bier, o estudante Rodrigo de Castro, 21, de Valinhos (interior de SP), arriscou: "A sua agência não se importa de você estar sendo fotografada por um estranho?". A intenção era insinuar que ela é tão bonita, que parece uma modelo. Sem timidez, foi em frente:
"-Quantos anos você tem?
-23.
-Ah! Eu adoro mulheres mais velhas."
Depois que a repórter informou que estava ali a trabalho, Rodrigo se explicou: "Eu tento sempre fazer amizade. Não quero ser chato. O importante na paquera é ter humor. E não ter medo de levar um não. Afinal, é sempre um aprendizado."
10. Desconfie
O fato de ele ou ela estarem na "pesca" não significa que estejam descomprometidos. A maioria dos entrevistados durante a semana tinha namorada(o), mas "sai com os amigos de segunda a sexta".
Desconfie principalmente de frases do tipo "Não aguento mais ficar sozinho", "Desde criança faço o tipo solitário".
A intenção é, segundo eles, "ficar com alguém diferente uma noite" e só. Mas isso não deve desanimar os namorados em potencial. Nunca se sabe como uma história vai acabar.
Ricardo, 25, frequentador do Dado Bier, vai à cervejaria "só para se divertir e tentar uma transa". Sua atual namorada, Isabela, ele conheceu em uma paquera, numa casa noturna. A coisa ficou séria e virou namoro. Na quinta-feira, a duas semanas do Dia dos Namorados, Isabela estava em casa, e Ricardo, de volta ao bar, "pescando".

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