São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
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Programa faz desempregado virar cidadão

LUCIANA BENATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um programa de educação de adultos, que tem como objetivo transformar trabalhadores desempregados em cidadãos com plenas condições de participação na sociedade, acaba de ter seu conteúdo reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação e do Desporto) como equivalente ao do 1º grau.
O Programa Integrar de Formação e Requalificação para o Trabalho, organizado pela CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), que é uma instância da CUT (Central Única dos Trabalhadores), tem hoje 780 alunos em 11 cidades do Estado de São Paulo.
"É uma outra perspectiva de formação profissional diante da inexistência do pleno emprego", diz Carmen Monteiro Fernandes, uma das coordenadoras.
Os recursos para o programa vêm do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e já estão garantidos para a expansão em âmbito nacional. As aulas são dadas em sindicatos, igrejas e prefeituras.
O currículo do programa, elaborado por universidades coordenadas pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), tem disciplinas técnicas e o conteúdo do ensino fundamental.
O que unifica os conteúdos é a discussão sobre o processo de reestruturação produtiva pelo qual passam hoje as indústrias.
A idéia é respeitar a história de vida dos alunos -trabalhadores, na maioria desempregados, com mais de 25 anos- para discutir temas ligados à cidadania.
As aulas do curso, que é estruturado em dez módulos de 60 horas-aula cada, são dadas por uma dupla formada por um professor da rede pública e um monitor -ex-metalúrgico, que recebe uma capacitação inicial de 15 dias e orientação pedagógica semanal.
"Esse curso abre a cabeça e faz a gente começar a sonhar e acreditar que pode ser alguém", diz a aluna Marisa Aparecida Fonseca, 33, ex-metalúrgica que passou dois anos e meio desempregada e hoje trabalha como auxiliar de limpeza.
Marisa, que havia parado de estudar na 6ª série, afirma que começou o curso pensando apenas em obter o diploma de 1º grau, mas acabou aprendendo muito mais: "ver quadros, ler bons livros".
Vanaldo Ferreira Batista, 33, ex-metalúrgico que está desempregado há quatro anos e vive de bicos, diz que o curso o ajudou a entender o sistema político.
"A automação na indústria, que estava coberta e agora explodiu, virou a sociedade de pernas para o ar. O pessoal não consegue arrumar emprego", afirma.
Eles são alunos da primeira turma do programa -que tem duração de um ano- e assistem aulas em salas da paróquia Santos Mártires, no Jardim Ângela (zona sul).

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