São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997 |
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Vilanização da universidade
LINDBERG FARIAS O governo federal tem manifestado, em inúmeras oportunidades, a idéia de que os recursos são abundantes na área educacional brasileira. O problema estaria no mau gerenciamento. E utiliza uma meia verdade para esconder um escândalo. Ora, é do conhecimento público a má aplicação dos recursos; problema, por sinal, crescente no governo federal.O que é inadmissível na argumentação oficial é a utilização do mau gerenciamento como desculpa para o baixíssimo investimento em educação. Tentam esconder, mas o fato é que o Brasil é conhecido como um dos países que menos investem no setor. Tentando mascarar a realidade dos escassos investimentos em todos os níveis de ensino, o governo estimula uma falsa polêmica. Imputa às universidades a culpa pela crise do ensino básico. "Gasta-se muito com o ensino superior." Pura falácia. Justiça seja feita, as universidades só sobrevivem à custa de muito malabarismo. Convém ressaltar que as universidades públicas são responsáveis por 90% de toda produção científica do país. O discurso de "vilanização" dessas instituições é parte da estratégia para aumentar nossa subserviência ao modelo econômico hegemônico, visto que no período da chamada Terceira Revolução Industrial as inovações científicas e tecnológicas representam o capital na sua forma mais refinada. O ataque às universidades tem por objetivo atingir a nossa capacidade de desenvolvimento e afirmação como nação soberana. Dados do Anuário Estatístico da Unesco (1994) colocam o Brasil na 80ª posição no mundo em dispêndios com educação. Aplicamos apenas 3,75% do PIB, atrás de Etiópia (4,9%), Costa Rica (4,6%), Suriname (8,3%), Mongólia (8,6%), Botsuana (7,6%), Gâmbia (3,8%), Ruanda (3,8%). Já a "Encyclopaedia Britannica" situa o Brasil na 97ª posição. Vergonhoso! E o pior: enxertam itens no orçamento anual do MEC que não têm relação alguma com educação. O que faz o governo incluir "defesa terrestre" e "previdência" no orçamento da Educação? E "telecomunicações" e "administração"? Ou mesmo "administração financeira"? O governo maquia o orçamento e transfere recursos da educação para outras áreas. Ou seja: o que já era pouco, segundo a Unesco, vira ínfimo. A verdade é que o governo federal não investe nas áreas sociais por não ser essa a sua prioridade. Afinal, as ordens do Consenso de Washington são outras: Estado mínimo, redução dos gastos sociais... Na lógica neoliberal, não há espaço para saúde e educação públicas. O governo não esconde a sua matriz teórica. O relatório do Banco Mundial de 1990 antecipava o atual discurso do MEC, recomendando ações concentradas na contenção dos gastos e não no aumento de dispêndios. Texto Anterior: Programa faz desempregado virar cidadão Próximo Texto: Nova revista traz textos sobre inteligência Índice |
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