São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997 |
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Guga de garras
JUCA KFOURI Era meio-dia no meu relógio e eu chorava. O Guga acabara de entrar para a galeria dos imortais do esporte mundial e eu, que definitivamente estou ficando velho, chorava comovido.É claro que chorei outras vezes antes por causa de esporte. Chorei em muitas derrotas do Corinthians (mas era criança), chorei com o Pelé no Azteca (e já era adulto), com o Basílio no Morumbi, com o Telê no Sarriá, com a Hortência em Havana, com o Oscar em Indianápolis, com o Tande em Barcelona, com o Senna em Imola, com o Dunga em Los Angeles. Mas, não sei, com o Guga, em Roland Garros, foi diferente. À medida em que ele foi mostrando suas garras suaves e certeiras, à medida em que sua garra nos conduzia ao sonho impossível, à medida em que ele mostrava a força serena e sorridente de um Quixote que abatia cada obstáculo a raquetadas, fui ficando arrebatado de tal maneira que nem tive coragem de ver o jogo final. Havia sonhado que ele estava ganhando de 2 a 0 e não conseguira fechar o terceiro set, nem o quarto, nem... Um telefonema providencial (obrigado, Márcio Braga) me permitiu ver o terceiro set. Guga danado. Nem sofrer ele nos fez. O pobre catalão era só um coadjuvante na festa daquele moleque com ar sapeca e jogo de campeão. Merci, Guga! Dos filhos deste solo és ídolo gentil com seu tênis tão sutil. * Quis o destino que a maior vitória de um brasileiro via satélite no circuito mundial do tênis fosse narrada pela sóbria competência, rica experiência, agradável companhia, indisfarçável torcida e informativa transmissão de Rui Viotti, muito bem respaldado por Renato Marcher e Luís Felipe Tavares, na Rede Manchete. Viotti deve ser visto como modelo para os nossos narradores. Ele se faz cúmplice do telespectador, ele não precisa levantar a voz para traduzir sua emoção, ele torce simplesmente porque seria desumano não torcer. Mais que ninguém, Viotti merecia ser a voz da grande conquista de Guga. * E o futebol? Ora, o futebol. Ainda bem que o Avaí tem tudo para ser campeão catarinense. O Guga merece. A seleção? Ora, a seleção. Alguém como Larri Passos seria a solução. Texto Anterior: Campeão 'bebe um pouquinho' Próximo Texto: Brasil empata com Itália e título fica com Inglaterra Índice |
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