São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
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Nova dramaturgia entra em cena com "Um Céu de Estrelas"

Pré-estréia hoje no Espaço Unibanco antecede debate

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A cineasta Tata Amaral, 36, buscou construir uma tragédia em cinema que jogasse o espectador para dentro do filme em "Um Céu de Estrelas", que estréia em São Paulo na sexta-feira.
O filme terá exibição especial hoje, às 20h30, no Espaço Unibanco de Cinema, para abrir o debate "Nova Dramaturgia no Cinema Brasileiro", promovido pela Folha e pelo Espaço Unibanco de Cinema.
A dramaturgia seguida por Tata em "Um Céu de Estrelas" é tensa, concentrada, busca por o espectador em contato com o desespero dos personagens.
"Não é um discurso distanciado", afirma ela.
O filme conta a história de Dalva (Alleyona Cavalli), que resolve desistir da vida que leva no bairro paulistano da Mooca para participar da final de um concurso de cabeleireiras em Miami.
Mas ela encontra resistência do ex-noivo, o metalúrgico desempregado Vítor (Paulo Vespúcio Garcia). O filme começa quando ela está arrumando as malas para viajar. Tudo acontece dentro da casa, os dois personagens confinados. "Não é um filme agradável, não é uma brincadeira. Está na hora de levar a sério a vida", disse Tata.
Para ela, o filme dialoga com questões fundamentais de hoje, que são o amor, o sexo e a morte. "Nem sempre esses são temas agradáveis." Para a cineasta, um de seus maiores desafios era tornar uma história confinada interessante.
"Tive muito cuidado para que a tensão do filme não despencasse. Ela sempre está crescendo, o que torna o filme insuportável para algumas pessoas", disse.
Um recurso que Tata utilizou para isso foi fixar o ponto de vista narrativo em Dalva. "A câmera segue a Dalva. Se ela sai da sala, a câmera sai com ela. O espectador segue a história por meio dela", disse. A câmera está sempre muito próxima dos atores. Cada movimento foi calculado, e os atores tiveram dois meses de estudo do texto e ensaio.
"Todos envolvidos no projeto conheciam a história profundamente. O texto foi precisamente construído", afirmou.
Um dos maiores problemas enfrentados pelos personagens da história era o de comunicação. "Por isso, em muitos momentos os personagens não falam, eles não têm possibilidade de verbalização."
O filme já foi descrito como drama violento e claustrofóbico que narra o desespero do casal trancado em uma casa na Mooca.
"Nessa situação a tragédia é iminente."
O cuidado na preparação do filme não ficou apenas nos atores. A cineasta fez consultoria com a Polícia Militar e assistiu uma série de fitas com o extinto telejornal "Aqui Agora". "Vendo as reportagens percebi que, por mais que 'Um Céu de Estrelas' seja forte, a realidade é mais punk ainda."

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