São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
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Ator Jon Favreau cresce com 'Swingers'

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator e roteirista norte-americano Jon Favreau protagonizou e escreveu uma pequeno grande filme: "Swingers - Curtindo a Noite", que chega agora às locadoras.
Nascido em NY, de uma família de canadenses franceses, Favreau mora em Los Angeles há cinco anos, cidade que retrata com humor cáustico e muito inteligente.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Los Angeles, explicou como gosta de trabalhar e os problemas que enfrentou para realizar seu filme.
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Folha - Porque você escolheu apenas nomes franceses -Lorraine, Michelle, Nikki- para as suas garotas em "Swingers"? Você tem alguma fixação por francesas?
Jon Favreau - Deve ter sido meu subconsciente. Não havia percebido que eram nomes franceses. Até há um ano, nunca tinha ido à França. Sou um típico garoto norte-americano que cresceu envolvido na cultura norte-americana, embora tenha interesse por material francês de cinema, como câmeras e projetores.
Folha - Você mencionou Quentin Tarantino e seus filmes várias vezes em "Swingers". Você é um admirador do cineasta ou estava ironizando?
Favreau - Eu acho Tarantino o mais interessante jovem cineasta em atividade. Todos os jovens atores e diretores em Hollywood amam seus filmes. Todos são muitos influenciados por ele.
Ele fala diretamente à minha geração. É violento, engraçado, "cool". Cresceu da mesma forma que grande parte da minha geração. Aquilo que o influenciou, também nos influenciou.
Folha - Mas Tarantino é a sua maior influência?
Favreau - Acho que ele me influencia, mas acho que Woody Allen é minha maior inspiração. Também citaria Martin Scorsese e Francis Ford Coppola.
Folha - Todos são cineastas de Nova York. Você não gosta da cinematografia da costa oeste?
Favreau - Minha preferência se deve apenas ao fato de eu ter nascido e crescido em Nova York.
Folha - Você fala em "cinema de guerrilha" para designar seu tipo de produção, mas você não acha que Hollywood já assimilou todo tipo de produção independente?
Favreau - Isso significa que não temos uma grande equipe e um grande orçamento à nossa disposição. Trabalhamos com poucas pessoas: um câmera, dois auxiliares, um cabeleireiro, um maquiador... Às vezes, esse tipo de produção não dá muito certo, às vezes dá. Mas o importante é preservar um tipo de energia que os filmes de Hollywood perderam.
Folha - Mas você não acha que Hollywood é bem esperta e está pronta para digerir os filmes independentes e mesmo a produção mais marginal?
Favreau - Com certeza. Mas o importante é prezar pela liberdade artística, o que fica muito difícil quando você tem um grande estúdio por trás, colocando dinheiro e dizendo o que você deve fazer, com quais atores deve trabalhar. Mas é bom lembrar que existem filmes independentes muito ruins também, em contraposição aos que encontram nesse meio um método pessoal de trabalho.
Folha - Você teve problemas para conseguir o dinheiro para produzir "Swingers"?
Favreau - Fizemos o filme com apenas US$ 250 mil. É quase impossível fazer um filme com tão pouco nos EUA, mas tivemos que dividir as despesas entre a equipe. Durante dois anos eu tive o elenco definido e não consegui reunir o dinheiro para começar o filme.
Alguns estúdios até se interessaram em produzi-lo, mas queriam indicar os atores, estrelas mesmo, para ter certeza que teriam seu dinheiro de volta, com a bilheteria, distribuição em vídeo, venda para a TV. Mas eu sempre quis fazer o filme com os meus amigos e dirigi-lo eu mesmo.
Folha - E o filme fez algum dinheiro nos EUA?
Favreau - A bilheteria foi US$ 7 milhões. Não é nada para um grande estúdio, mas para um pequeno filme independente foi ótimo.
Folha - Esse resultado positivo ajudou você a conseguir dinheiro para o próximo filme?
Favreau - As críticas foram muito simpáticas, principalmente no festival de Veneza, e isso ajudou. As pessoas gostaram do roteiro, dos atores, da direção. Agora os produtores de Hollywood querem fazer trabalhos comigo.
Agora estou escrevendo alguns roteiros, estou produzindo um piloto para uma série de TV, que batizei "Hollywood's Tales". Nunca vi muita televisão, mas gostei de séries como "Twin Peaks" e da inglesa "Absolutely Fabulous".
Também gravei algumas participações na série de TV "Friends". Fiz o papel de namorado da Courteney Cox.
Folha - Você concorda que seu filme fala apenas de problemas masculinos?
Favreau - Eu realmente escolhi o lado masculino do problema, mas acho que é um filme muito honesto e que as mulheres gostam de ver o que os homens estão passando.
Os homens são muito vulneráveis e muito diferentes quando as mulheres estão por perto, e elas gostam porque podem ver como os homens são realmente.
Folha - "Swingers" é muito autobiográfico?
Favreau - Eu tinha rompido com minha namorada há pouco tempo, exatamente como no filme. Todos os atores que fizeram papéis de meus amigos são meus amigos de verdade.
Meu apartamento no filme também era o meu verdadeiro apartamento. As casas noturnas onde vamos no filme são as mesmas que frequentamos todas as noites.
Isso faz que as pessoas pensem que conheçam a minha vida depois de terem visto o filme, mas eu não sou o Mike. Apenas fiz de Mike uma versão mais patética de mim mesmo. Eu realmente não sou tão neurótico como ele.
Folha - Sua vida mudou muito desde que o filme foi lançado?
Favreau - Sim, muito. Não saio mais sem ser reconhecido.
Folha - Você mudou de apartamento?
Favreau - Mudei de apartamento e de carro também. E tenho uma nova namorada. Ela é médica. Acabou de se formar.

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