São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
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POLÍTICA NO INVERNO

Nos últimos três anos, a política institucionalizada no Brasil tem sido caracterizada por uma inércia quase tão grande quanto a do câmbio -e as duas coisas estão, de certo modo, relacionadas. A âncora cambial é o esteio do plano de estabilização. Este criou um consenso que vem congelando o chamado "conflito distributivo". Isto é, o choque de forças sociais numa sociedade desigual vem sendo por enquanto amainado, pelo menos entre aquelas que participam do mercado, o que favorece ainda mais a falta de conexão entre os partidos e setores da sociedade.
O diagnóstico pode parecer distante da realidade de um país sacudido por escândalos e por movimentos sociais estridentes como os dos sem-terra e dos sem-teto. No entanto, esses sinais de vida dão força à análise precedente. O protesto dos "sem" sinaliza a revolta dos excluídos do mercado e da política institucional, dos que nada esperam auferir dos benefícios do Real e que, também por isso, vêm se colocando à margem dos canais políticos formais -partidários, pelo menos. As denúncias de corrupção são indícios de crise das instituições, mas isso não se articula a um movimento organizado de reforma na sociedade.
É diante desse quadro que começa a campanha de 1998. Aprovada a emenda da reeleição, FHC lança-se ao único embate que se se lhe apresenta como mais sério: aquele contra os danos à sua imagem e à do Real. Um tanto chamuscado por não ter aprofundado o plano de estabilização -as reformas não passaram-, e por escândalos, FHC deve lançar uma caravana para adicionar o traço de realizador a seu perfil.
Em seu percurso pelo país, FHC não terá adversários para se bater. Com o consenso do Real, trouxe para junto de si o centro político. A "direita dura", Maluf e o PPB, está isolada e avariada por denúncias de irregularidades. A esquerda -o PT-, às voltas com o seu próprio escândalo, não tem meios para se lançar com força à disputa; carece de projeto político-econômico definido e de apelo popular, de aliados, de recursos materiais e, mesmo, de unidade. O inverno político parece criar as condições para que FHC venha a conseguir seu segundo mandato.

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