São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Pequeno produtor abandona laranja

ROBERTO DE OLIVEIRA

ROBERTO DE OLIVEIRA; LUCIANA CONSTANTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Baixos preços da fruta levam citricultores a substituir a cultura por goiaba, manga, cana, tangerina e limão

Pequenos produtores de laranja estão abandonando a cultura ou diversificando o plantio e optando pela criação de gado confinado de corte e de leite como alternativa aos preços baixos da fruta.
Nos últimos três anos, vem ocorrendo a expansão da goiaba, manga, tangerina, limão e cana em áreas antes destinadas à laranja no interior de São Paulo, maior pólo citrícola do mundo.
Levantamento da Folha junto a sindicatos de produtores mostra que pelo menos 2.500 citricultores abandonaram a laranja ou reduziram seus pomares, optando por novos produtos.
No auge de seu crescimento, nos anos 80, a laranja rendia ao produtor US$ 2,50/caixa, chegando a US$ 3/caixa, livres dos custos de colheita e transporte, segundo Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga (SP).
O declínio começou nos anos 90, quando o preço despencou para US$ 0,70/caixa, livres das despesas de transporte e colheita.
Na semana passada, a indústria estava pagando US$ 2,12 pela caixa da variedade hamilim na porta da fábrica, ou seja, os custos de transporte e colheita são arcados pelo produtor.
Hoje, o custo de produção por caixa de laranja varia entre US$ 1,50 e US$ 1,80.
A queda dos preços, aliada ao aumento de doenças nos pomares, como o cancro cítrico e o amarelinho, desanimou os produtores.
Anísio Paes Barbosa, 63, vice-presidente do Sindicato Rural de Limeira (SP), reduziu pela metade seu pomar.
Barbosa passou a se dedicar à pecuária de leite. Ele diz que os produtores de laranja estão descapitalizados e não conseguem investir.
Ele afirma que, enquanto o setor pede R$ 2 pela caixa de laranja, um copo de suco do produto é vendido por até R$ 1,20 em restaurantes.
O produtor Newton Senra, 65, diz que reduziu a área de laranja de 200 mil pés para 30 mil pés.
Enquanto os pequenos produtores abandonam a laranja, indústrias de suco estão investindo em pomares próprios. Médios e grandes citricultores também estão expandindo suas áreas.
Na avaliação dos sindicatos rurais, 30% da produção de laranja do Estado já provêm dos pomares das indústrias.
A Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos) considera esse número exagerado. "A produção da indústria representa apenas 10%", diz Ademerval Garcia, presidente da associação.
Para ele, a safra recorde de laranja (405 milhões de caixas) é resultado do aumento da produtividade e do crescimento dos pomares de médios e grandes produtores.
"A tendência é de profissionalização, com alta produtividade e custo reduzido", diz Garcia.

Colaborou Luciana Constantino, da Folha Campinas

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