São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Corpos de dois sem-terra aparecem em rio

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NAZARÉ DA MATA

A Polícia Militar encontrou ontem, boiando no rio Capibaribe (PE), os corpos dos dois sem-terra que estavam desaparecidos desde a madrugada de domingo.
Os sem-terra teriam sido levados por desconhecidos durante a desocupação violenta de uma área invadida, em Nazaré da Mata (PE). Os corpos foram encontrados a cerca de 30 km do local do conflito.
Até as 18h de ontem, ninguém havia sido preso. Inácio José da Silva, 20, foi morto com um tiro de espingarda calibre 12, nas costas, disparado a uma distância de menos de dois metros, segundo exame realizado pelo IML (Instituto de Medicina Legal), em Recife.
Pedro Augusto da Silva, 56, que não tinha ferimento à bala, foi morto por uma facada no pescoço, segundo laudo do IML.
Os dois serão enterrados hoje em Nazaré da Mata (64 km de Recife).
Homens armados teriam entrado, por volta de 1h de domingo, atirando no acampamento (formado na última quinta-feira por 30 famílias), segundo o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Inácio da Silva e Pedro da Silva tentaram fugir, mas correram em direção ao local de onde vinham os tiros, disse Joaquim Gomes da Silva, que afirmou ter "visto tudo".
Os dois teriam sido agarrados pelos "homens armados", agredidos fisicamente e jogados dentro de uma camionete, segundo Joaquim da Silva, 47.
O conflito deixou ainda seis pessoas feridas, sendo quatro adultos -que não correm risco de vida- e duas crianças: as irmãs Jéssica Maria Oliveira do Nascimento, 6, baleada no peito, e Érica Maria do Nascimento, 1 ano e 3 meses, atingida nas pernas e tórax.
"Nós não vamos mais morrer de braços cruzados. Vamos nos preparar para reagir. Os proprietários (de terra) deram o primeiro tiro e agora qualquer ação que a gente fizer estará justificada", disse o coordenador do MST no Estado, Jaime Amorim.
O governador Miguel Arraes (PSB) exigiu do secretário da Segurança Pública, Antônio Morais, apuração rápida para o caso. A terra, declarada improdutiva pelo Incra, é do engenho Camarazal.

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