São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Pontes da cidade estão em idade crítica

RODRIGO VERGARA
RICARDO FELTRIN

RODRIGO VERGARA; RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Avaliação é de membro da comissão que investiga as causas do acidente com a ponte dos Remédios

A maioria das 171 pontes de São Paulo sob responsabilidade da prefeitura está em idade crítica, afirma José Augusto da Silva Gante, engenheiro civil e membro da comissão que investiga o acidente ocorrido na ponte dos Remédios (zona oeste de São Paulo).
Segundo Gante, professor do Mackenzie na disciplina "pontes", a maioria dessas obras está completando 30 anos e chegou à sua idade de maior risco.
Para ele, "a cidade corre risco de ver outros acidentes como o da última terça-feira", caso as pontes não passem a ter manutenção maior e com mais frequência.
"Uma ponte com 30 anos equivale a um homem de 50. Nessa idade, o homem tem que visitar o médico com maior frequência, fazer exames do coração, próstata etc. Com as pontes ocorre o mesmo: elas estão na idade desses 'exames', porque começaram a se deteriorar", diz Gante.
O professor e engenheiro integra a comissão de investigação do caso da ponte dos Remédios, criada pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) no dia seguinte ao acidente.
Gante diz que há outras semelhanças entre as pontes e o organismo humano. Ele fez outras comparações, a pedido da Folha.
Osteoporose
"Essas estruturas têm vida. Podemos dizer que a natureza das pontes é como a dos ossos do corpo. As fissuras e rachaduras que aparecem poderiam ser comparadas à osteoporose".
Osteoporose é uma doença considerada crônica (sem cura definitiva) que ataca os ossos de algumas pessoas, tornando-os mais frágeis, menos densos e com sua constituição desaglomerada.
"O fato é que o concreto é permeável, outro fator que mais cedo ou mais tarde acaba diminuindo a resistência das obras. Por isso, uma manutenção constante é essencial", declara.
Para o engenheiro e professor da USP Paulo de Mattos Pimenta, os órgãos públicos terão, a partir de agora, de programar gastos cada vez maiores com recuperação e manutenção de estruturas como pontes e viadutos, construídas em concreto armado ou protendido.
"A maioria das estruturas de concreto armado é datada das décadas de 50 e 60. As de concreto protendido, como a da ponte dos Remédios, vieram a seguir. A conta da escolha desse tipo de construção está chegando agora."
Pimenta diz que no passado não existiam estudos sobre a durabilidade do concreto armado.
"Acreditava-se que duraria 50 anos, mas hoje percebe-se que tem vida mais curta, reduzida ainda mais com a má conservação que se faz no Brasil", diz Pimenta.

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