São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição de mulheres cresce 37,5% com cotas

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da instalação da lei de cotas garantindo 20% do número de candidaturas de cada partido às mulheres, a porcentagem de vereadoras eleitas no ano passado, em todo o país, subiu de 8% para 11%.
O levantamento, feito pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) com base em dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), demonstra um crescimento de 37,5% na participação política feminina.
O aumento, segundo a deputada Marta Suplicy (PT-SP), provocou a mudança de opinião do presidente da comissão que estuda a nova legislação eleitoral, deputado Mendonça Filho (PFL-PE).
"Ele disse que sempre foi contra as cotas, mas que o aumento provava que elas eram importantes", declarou Suplicy.
Reunidos ontem em Brasília, membros da comissão discutiram sobre a manutenção das cotas nas eleições de 1998.
"Temos chance de aumentar para 30%, mas está mais para 20%", explicou. "O Brasil é o único país do mundo que tem cota inferior a 30%. Esse valor é consenso mundial, mas aqui foi penoso conseguir os 20%."
Expectativa
Entidades ligadas à mulher estimavam que, após a adoção da medida, 20% dos representantes eleitos para as Câmaras Municipais seriam mulheres.
O aumento de três pontos percentuais, embora abaixo dessa expectativa, foi, na opinião da deputada, "razoável".
"Foi lucro. Quebramos a tendência de um aumento pequeno. Em dez anos, de 1982 a 1992, nossa participação cresceu de 3% para 5%. Com as cotas, em apenas quatro anos, tivemos um aumento de três pontos percentuais", disse.
"Houve um salto quantitativo, mas temos de considerar que também ocorreu um salto qualitativo interessante. Houve e está havendo uma mudança que cria uma imagem melhor para a mulher."
Segundo Delaine Martins Costa, coordenadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Políticas Públicas do Ibam, o crescimento da presença feminina só não foi maior pela falta de empenho dos partidos.
"Muitos (partidos) minimizaram o efeito das cotas não ajudando as mulheres. Algumas candidatas não sabiam nem mesmo qual o papel do Legislativo. Era fundamental explicar certas coisas. Muitas mulheres disputavam uma eleição pela primeira vez."
Na avaliação de Costa, os partidos deveriam investir em lideranças femininas, transformando-as, assim, em candidatas com potencial de voto.
Proposta da deputada Marta Suplicy prevê que uma parcela do fundo partidário seja revertida para as campanhas de mulheres.
Com isso, ela pretende reduzir supostas diferenças de infra-estrutura entre os candidatos dos dois sexos. "Hoje não dá para competir. Algumas mulheres não tinham santinhos para distribuir. Uma mudança de cultura, que desperte a consciência dos partidos, é necessária", afirmou.
Na tentativa de minimizar o impacto das cotas e colaborar na formação das candidatas a vereador, entidades ligadas à questão da mulher realizaram, no ano passado, palestras de esclarecimento em 15 cidades do país.
Segundo Costa, cerca de mil mulheres participaram dos seminários. "Elas reclamavam da falta de acesso à informação básica. Discutíamos desde as funções do Legislativo até as formas de arrecadar recursos."

Texto Anterior: Advogados contestam revisão em 99
Próximo Texto: Câmara vai debater regras para pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.