São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Ponte nunca passou por manutenção

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A ponte dos Remédios da marginal Tietê (zona noroeste de São Paulo), interditada há nove dias por ter apresentado uma rachadura e ameaçar cair, nunca passou por qualquer manutenção mais profunda desde quando foi construída, em 1967.
Ele recebeu apenas "maquiagens", como recapeamento asfáltico e pintura.
A revelação foi feita ontem por Luiz Carlos David, superintendente do DER (Departamento de Estadas de Rodagem), órgão do governo do Estado de São Paulo que construiu a ponte.
"Estou no DER há dois e meio. A informação que eu tenho dos técnicos é a de que eles não fizeram a manutenção dessa ponte porque entendiam que ela era municipal", afirmou David.
"A ponte é do Estado. Nós fazemos vistoria e manutenção nas obras da prefeitura", disse o engenheiro Paulo Taliba, superintendente de Obras da Secretaria Municipal de Vias Públicas.
O bloqueio da ponte dos Remédios provocou também a interdição de trechos da marginal Tietê, o que acabou trazendo vários transtornos aos motoristas da cidade.
David afirma que, dependendo do que acontecer na madrugada de hoje, os técnicos já podem começar a planejar a implosão da ponte pela manhã. "Se ela não se estabilizar, será condenada. É a madrugada 'D' da ponte."
Esquecimento
O superintendente não soube informar se seus antecessores no cargo simplesmente esqueceram que a ponte pertencia ao Estado. "Não sei. Só sei que o DER não fazia a manutenção da ponte. Se estava errado em não fazer, não sei. Achar que o Estado não tem responsabilidade é fugir da raia."
Segundo David, o que pode ter acontecido ao longo dos anos foi o DER achar que a prefeitura estava fazendo a manutenção, e a prefeitura, por sua vez, acreditar que o DER estava executando o serviço.
David não soube informar também se a ponte passou por alguma reforma estrutural desde a época em que foi construída. "Não posso dizer isso também. O que eu posso dizer é que nesses dois anos e meio não fizemos reformas."
O superintendente afirmou ainda que 18 dos 48 cabos de proteção da ponte dos Remédios já estavam rompidos havia muito tempo, mas ele não soube informar quanto. "Isso não era visível. Os cabos ficam dentro do concreto."
A assessoria de imprensa do órgão chegou a arriscar que o rompimento aconteceu há mais de dez anos. David não confirma. Com relação a infiltração de água, afirmou: "As pontes brasileiras, no geral, não são impermeabilizadas. A infiltração acontece em todas as pontes. Isso é problemático, mas não quer dizer que elas vão cair".
O superintendente afirmou ainda que o DER construiu outros dois elevados na mesma região: o Cebolão, no entroncamento das marginais Tietê e Pinheiros, e o viaduto Miguel Mofarrej, continuação da avenida Gastão Vidigal, na Vila Leopoldina.
O Cebolão passa por manutenção constante. Já o Mofarrej recebia o mesmo tratamento da ponte dos Remédios, ou seja, nenhuma manutenção. "Vamos começar a fazer agora", afirmou David.

LEIA MAIS sobre a ponte dos Remédios na página 3-3

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