São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Ponte faz paulistano antecipar seu rodízio

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

A cada complicação no trânsito, o paulistano readapta sua vida para honrar compromissos, respeitar horários e, principalmente, evitar a perda de dinheiro -mesmo que isso signifique não sair para trabalhar.
O vendedor Edmílson Correa, 33, entrou numa espécie de "rodízio forçado". Morador da Vila dos Remédios (zona noroeste, próximo à ponte dos Remédios), ele agora leva cinco horas no trânsito entre o trabalho, na Casa Verde (zona norte) e sua casa.
Ontem, ele decidiu não sair de casa. "Vou juntar tudo o que tiver para fazer e resolver num único dia. Sair, só se precisar."
O gerente da imobiliária Camargo Dias Mário Sérgio Centini, 37, também adotou a tática de acumular compromissos. "Se o cliente permite, mostro cinco ou seis imóveis de uma vez. Escolho um lugar para estacionar e visito dois imóveis a pé."
Há quem opte por mudar de meio de transporte. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos registrou aumento de passageiros nas linhas oeste e noroeste-sudoeste.
Na primeira, o aumento foi de 5% (cerca de 11 mil passageiros). Na outra, oscilou de 10% a 15% (em torno de 30 mil). Foi a primeira vez que a empresa registrou aumento de demanda devido a congestionamentos.
Carro na garagem, hábitos diferentes. A dona-de-casa Fátima Couto, 39, que também vive na Vila dos Remédios, tem tido problemas para levar o filho Fábio, 14, ao colégio. Antes, levava dez minutos. Agora, a viagem não sai por menos de uma hora. "Ele perde a primeira aula todo dia."
Os filhos de Berenice Ribeiro Serra, Guilherme e Caroline, não podem perder a primeira aula hoje. Eles têm prova e, para estar na escola, na Vila Madalena, às 7h30, terão de sair de casa, no Parque Continental, às 5h30.
"Hoje (ontem), saí para levá-los às 6h20 e só chegamos às 8h40. Amanhã (hoje), vão ter de acordar às 5h", disse Berenice.
Pior ainda é o aluno chegar à escola, e o funcionário encarregado de abrir os portões, não. Foi o que aconteceu ontem na Toquinho de Gente, no Sumarezinho. "A funcionária que vinha do Jaguaré atrasou duas horas e meia", disse Tânia Márcia de Souza Mello, diretora da escola.
Quem abriu os portões foi outra funcionária, que vinha de Pirituba e chegou 30 minutos atrasado. "Em 25 anos nunca abri a escola com atraso. Hoje (ontem) aconteceu, por falha das autoridades", disse Tânia. Hoje, ela deixou a chave com um funcionário que vai à escola a pé.
(MT)

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