São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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E agora, Brasil?

THALES DE MENEZES

"O título de Gustavo Kuerten em Roland Garros é um grande passo para o tênis brasileiro."
A frase acima, reproduzida em vários lugares desde a manhã do domingo, é uma mentira deslavada. O título em Paris é um grande passo para a carreira de Kuerten, apenas isso.
Claro que, no futuro, poderá ser diagnosticado como o lance inicial de uma popularização do esporte no país, mas ainda é cedo para cravar a alternativa.
A conquista de Kuerten é fruto exclusivo do trabalho pessoal dele e de seu técnico, Larri Passos. São dois corajosos que entregaram suas vidas ao tênis sem o apoio devido de dirigentes, governo e empresários.
Se nesta semana as roupas coloridas de Kuerten estão vendendo sem parar nas lojas e a garotada procura as academias de tênis para novas matrículas, é hora de quem dirige o tênis brasileiro arregaçar as mangas.
Projetos incipientes como o tênis nas escolas, por exemplo, podem ir no vácuo da taça francesa de Kuerten e decolar de vez. O momento é o melhor possível para sensibilizar empresários dispostos a apoiar.
O tênis precisava de um ídolo no Brasil. Mas um único herói não vai mudar a face esportiva de um país, ele só ajuda motivando uma nova geração.
O projeto para desenvolver o tênis na Alemanha era exemplar desde sua concepção, mas só rendeu frutos muito tempo depois de sua implantação, alavancado pelo sucesso -também pessoal- do fenômeno Boris Becker.
Vale lembrar que o Equador teve seu campeão em Roland Garros, o simpático e já aposentado Andrés Gomez, e não conseguiu emplacar nenhum tenista de respeito depois dele.
Sabe o que faltou no Equador? Tênis nas escolas, torneios de todos os níveis, intercâmbio de juvenis, quadras públicas, imprensa especializada...
No Brasil, ainda falta tudo isso também. Por enquanto, é Gustavo Kuerten e só.

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