São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Contratos de Covas; Acusações ao PT; Mulheres x futebol

Contratos de Covas
"O governo do Estado de São Paulo, pela responsabilidade e rigor que sempre conferiu à gerência dos recursos públicos, sente-se no dever de contestar a reportagem 'Contratos de amigo de Covas sobem 566%', publicada na edição de segunda-feira, dia 9.
Na tentativa de estabelecer uma relação duvidosa, absolutamente desprovida de verdade, supondo que as empresas Tejofran e Power tenham sido beneficiadas nesta gestão e vinculando esse fato à amizade do sr. governador com o dono das referidas empresas prestadoras de serviço, houve nítida manipulação na base de dados.
Destaca-se ainda o fato de que as empresas, como as demais contratadas, venceram processos licitatórios públicos -exceto em duas contratações emergenciais por tempo limitado- sem contestação dos concorrentes.
Para se chegar à incrível cifra de 566% de aumento nos valores de contratos, misturaram-se informações de contratos realizados em gestões anteriores, contratos vigentes e contratos firmados por este governo.
É importante que o leitor entenda a mecânica dos contratos e faça comparações em torno da mesma base para, a partir daí, tirar as suas conclusões.
Em janeiro de 1995, primeiro mês de governo, os 28 contratos em andamento com a empresa Power somavam R$ 47.917.095,47, e os 36 contratos em andamento com a Tejofran somavam R$ 141.998.797,62. O valor total dos contratos das duas empresas era, portanto, de R$ 189.915.864,09.
Em janeiro de 1996, o Estado tinha 15 contratos com a Power, no valor de R$ 36.041.709,70, e 22 contratos com a Tejofran, somando R$ 111.916.969,62.
Em janeiro de 1997, ou seja, computados os contratos assinados em 1996, ano a que se refere a reportagem, o governo contabilizava 12 contratos em andamento com a Power, somando R$ 45.473.676,16, e 35 contratos com a Tejofran, no valor total de R$ 88.410.774,02. Juntos, os contratos com as duas empresas realmente somavam R$ 133.334.450,18, valor registrado na reportagem. Só que, ao contrário do que afirma o texto, esse valor, em vez de significar ampliação de 566%, é, incontestavelmente, 29,5% menos do que os valores dos contratos herdados por este governo em janeiro de 1995.
O desembolso mensal do Tesouro do Estado com o pagamento das empresas é outra prova cabal de que as referidas empresas estejam sendo beneficiadas. Embora citado na reportagem, no quadro "Outro lado", a ele o texto não confere a mesma credibilidade. Portanto, insistimos em repeti-lo.
Em janeiro de 1995, a Power recebeu R$ 2.429.710,01, o que, computada a inflação até os dias de hoje, significa R$ 3.096.908,38. Em janeiro de 1996, R$ 1.017.096,98 (R$ 1.859.550,35) e, em janeiro de 1997, R$ 2.581.696,51. A Tejofran recebeu R$ 5.134.365,66 em janeiro de 1995 (R$ 6.544.262,47, em valores corrigidos pelo IGP-DI); R$ 3.437.748,72 em janeiro de 1996 (R$ 4.301.039,16, se computarmos a correção do IGP/IP); e R$ 4.416.676,63 em janeiro de 1997.
São significativos também os dados relativos à participação das referidas empresas no volume total dos gastos com serviços terceirizados. Em janeiro de 1995, a Tejofran participava com 4,2% do total, taxa que em janeiro de 1997 caiu para 3,2%. A Power, no início do governo, representava 2% do total de gastos com empresas prestadoras de serviço e hoje participa com 1,8%.
Tendo em vista os dados expostos acima, sobre os quais não paira dúvida alguma, muito menos para o Tribunal de Contas do Estado -citado como base para reportagem-, o governo do Estado de São Paulo repudia a abordagem do texto e espera que a Folha, órgão de indiscutível seriedade, reponha a verdade publicando, com destaque idêntico, o material que enviamos."
Dalmo Nogueira Filho, secretário-adjunto em exercício de Governo e Gestão Estratégica (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Emanuel Neri - Números do Tribunal de Contas do Estado (TCE) mostram que, em 1994, o governo Fleury fez novos contratos no valor de R$ 20,1 milhões com Power e Tejofran. Em 96, o governador Mário Covas, que assumiu em janeiro de 95, fez novos contratos com as duas empresas no valor de R$ 133,8 milhões. Portanto, o crescimento no valor dos contratos entre o último ano do governo Fleury e o segundo ano de Covas foi de 566% (leia reportagem no caderno Brasil, na pág. 1-14).

Acusações ao PT
"Em 8 de junho, este jornal afirmou que 'Cpem enviou dossiê para o PT em 1995' e fez chamada de primeira página com o título 'PT recebeu há dois anos um dossiê sobre Cpem'. O erro maior é a reportagem afirmar 'que o PT aparentemente perdeu o documento, ou nunca tomou conhecimento dele'.
É injustificável que a Folha não tenha ouvido o PT. Se o tivesse feito, seria informada de que:
a) O PT nunca perdeu os documentos que constituem o relatório sobre a defesa da Cpem no processo movido contra a empresa pela Prefeitura de São José dos Campos, gestão 93/97, da prefeita Angela Guadagnin, do PT, relativo a contrato realizado entre aquela empresa e a administração do PTB-PRN;
b) o documento -dossiê- foi enviado no dia 27/5, conforme protocolos, à comissão de averiguação constituída pela presidência do PT;
c) salta à vista o absurdo de o PT utilizar-se de dossiê da empresa Cpem, processada pela prefeitura administrada pelo PT. Daí nossa discrição em usar em nossa defesa o chamado dossiê da Cpem;
d) a Folha não desconhece o procedimento, elementar em qualquer processo, de solicitar documentos oficialmente e por escrito, medida correta que a comissão de averiguação tomou, mesmo tendo recebido do presidente do PT os documentos. Além disso, é errado afirmar 'na última quarta, às 13h59, a Cpem recebeu fax do partido solicitando a mesma documentação'. É evidente que foi a comissão de averiguação que solicitou oficialmente o documento da Cpem, conforme ata relatada amplamente pela imprensa;
e) a Folha repete procedimento já criticado pelo próprio ombudsman, em 8/6, de tratar as prefeituras administradas pelo PT como se fossem o PT."
Vera Gomes, secretária nacional de comunicação do PT (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Fernando Rodrigues - 1) a reportagem diz que o PT perdeu ou não tomou conhecimento do dossiê da Cpem. Isso está correto, pois o partido nada fez depois de receber o documento; 2) se a comissão de averiguação é do PT, não está errado afirmar que o partido solicitou documentos à Cpem.

Mulheres x futebol
"Muito oportuna a reportagem sobre homens que esquecem suas mulheres na hora do futebol. No meu caso, a atenção do meu ex-marido era disputada com a Folha."
Valéria Prochmann (Curitiba, PR)

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