São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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"Movimento não vive só de ocupações", diz José Rainha

DA AGÊNCIA FOLHA; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Caso o governo pense que vai esvaziar o MST, está enganado"
As novas medidas do governo não vão abalar o MST, disse ontem o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, José Rainha Jr.
"Caso o governo pense que vai esvaziar o MST, está enganado. O movimento não vive só de ocupação", afirmou Rainha.
Ele disse, em Teodoro Sampaio (SP), que as medidas "serão bem-vindas" se ajudarem no processo da reforma agrária.
Ele criticou, no entanto, a proibição de vistoria em área invadida -o que inviabiliza a desapropriação dessas áreas. Disse que os integrantes do MST não vão cessar as invasões.
"A ocupação é uma medida extrema que tomamos para agilizar a desapropriação. Se o governo agiliza a desapropriação antes, melhor. Mas não acredito nessa capacidade", disse.
Para Rainha, o movimento pode realizar acampamentos nas fronteiras das fazendas e aumentar o número de passeatas como forma de atuação.
Ele considerou "bom" o item do decreto que estipula prazo de 120 dias para vistoria de área indicada para reforma agrária.
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) descartou ontem que o pacote do governo seja para abalar o MST, apesar de o anúncio ter sido feito um dia após a condenação de Rainha a 26 anos e meio de prisão.
"Não há relação com a condenação. O pacote foi lançado hoje (ontem) tendo em vista o calendário político do Congresso e a articulação política do governo", disse Jungmann.
A Folha apurou que a MP e o decreto foram assinados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no final da noite de ontem, apesar de prontos há meses. Isso provocou até mesmo atraso na impressão do "Diário Oficial" da União de ontem.
Condenação
Jungmann lamentou a condenação de Rainha. "Espero que ele, no próximo julgamento, tenha mais sorte e consiga provar sua inocência", afirmou.
O presidente do Incra, Milton Seligman, disse que não comentaria a decisão da Justiça, mas afirmou que a condenação pode trazer danos ao MST.
Tanto Jungmann quanto Seligman afirmaram que Rainha continua habilitado a ser interlocutor do MST com o governo.
Rainha quer mobilizações para impedir sua condenação. Vai tentar levar 50 mil pessoas a Pedro Canário (ES) em 16 de setembro, no novo julgamento.
"Vamos levar lideranças artísticas, sindicais, eclesiásticas e representantes da Anistia Internacional, sem-teto, representantes dos direitos humanos, OAB e tudo mais", afirmou.
Ele repetiu que o julgamento "não passou de um jogo de cartas marcadas", com jurados representantes de fazendeiros.
Para Rainha, o juiz que o julgou foi "sensato e teve bom senso" ao lhe aplicar uma pena que permitisse novo julgamento.
"Ele viu que não havia provas contra mim e tenho certeza de que me deu uma pena maior para que eu não saísse da sala de julgamento preso", afirmou. Segundo ele, a acusação pediu pena menor após a sentença.
Rainha afirmou que não sabe quais serão as consequências em uma eventual segunda condenação. "Uma nova condenação vai acender o estopim dos movimentos sociais do país que estão adormecidos", disse.
Rainha disse que o MST não vai promover invasões em protesto. "Eu sei da minha condição de condenado. O caminho do MST será o da mobilização".
Rainha chegou ontem pela manhã a Teodoro Sampaio (SP), depois de ter passado por São Paulo vindo Vitória (SP).
Ele foi ver sua mãe, Virginia Rainha, que mora em um assentamento na zona rural da cidade. Rainha a abraçou e fez uma brincadeira: "Pensou que fosse me ver só daqui a 26 anos, né?".
Com um sorriso, sua mãe respondeu: "Deus é grande. Não vai deixar isso acontecer. Você vai se livrar dessa meu filho."

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