São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Paciente particular 'salva' universidades

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os 110 hospitais universitários do país estão sendo forçados a reduzir o atendimento ou a fazer convênios com a iniciativa privada para não fechar.
Motivo: o baixo valor pago aos hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde) pelos serviços prestados e a demora na liberação desses recursos.
As dívidas dos hospitais universitários ultrapassam R$ 100 milhões. Muitos deles estão com metade dos funcionários necessários.
Os 46 hospitais ligados a universidades federais estão em pior situação porque, além dos baixos valores pagos pelo SUS, só podem contratar pessoal com autorização do Ministério da Educação.
"Quando um funcionário se aposenta, esperamos até três anos para conseguir contratar alguém para o lugar. Isso inviabiliza o bom funcionamento de qualquer hospital", diz Juarez Castro, diretor do hospital universitário da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente do Conselho de Diretores de Hospitais Universitários Federais.
Castro também reclama das dificuldades para substituir funcionários que não estão rendendo o que deveriam. "É tão complicado demitir e contratar outra pessoa que termina sendo mais vantajoso manter o funcionário ruim", diz.
O hospital da UFMG é um retrato dos problemas enfrentados pelos demais estabelecimentos ligados às federais: seus débitos com fornecedores hoje chegam a R$ 9 milhões e há um déficit de 487 funcionários. Há varias enfermarias fechadas e, dos 432 leitos disponíveis, 150 já foram desativados.
Desde a segunda-feira da semana passada, os 1.480 alunos do 5º ao 12º semestre de medicina estão com as aulas suspensas, por falta de condições para aulas práticas nos hospitais.
"Por causa das dívidas com os fornecedores, não conseguimos mais comprar medicamentos nem equipamentos. A solução foi fechar algumas enfermarias e suspender as aulas. Mas não sei quanto tempo mais aguentaremos", afirma Castro.
Para não ficar em débito com os fornecedores, o hospital da UFPR (Universidade Federal do Paraná) optou por deixar de pagar os encargos sociais. Resultado: suas dívidas hoje chegam a R$ 21 milhões.
Na próxima semana, haverá audiência pública conjunta das comissões de Seguridade Social e de Educação para debater a situação dos hospitais universitários.
A maioria dos hospitais universitários são centros de referência em suas regiões e, em muitos casos, são os únicos da rede pública com tratamentos de alta complexidade.
O hospital da UFMG, por exemplo, é o único do Estado a fazer transplante hepático, transplante de medula óssea e tratamento para fibrose crítica (doença que ataca crianças e que impede a absorção de líquidos).
Os hospitais universitários encontram ainda outra dificuldade para escapar da escassez de recursos. Além de atender os pacientes, essas entidades têm de complementar o aprendizado dos alunos.
"As cirurgias são feitas por um médico e assistidas por pelo menos quatro alunos. Isso significa que o gasto mensal com luvas, aventais e toucas é muito superior ao dos hospitais tradicionais", diz Castro.

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