São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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A LIÇÃO DOS BURACOS

A sucessão de fissuras, rachaduras e buracos que vem surpreendendo a cidade de São Paulo nas últimas semanas serve de alerta para o tratamento que vem sendo dado à manutenção do equipamento público.
Engenheiros podem dar várias respostas para cada problema específico que surge, mas não respondem à questão mais geral: as construções no subsolo -e às vezes até mesmo as "vias aéreas"- da cidade estão abandonadas e geram problemas que provocam com frequência substancial piora no comumente exasperante trânsito paulistano. Felizmente, tragédias maiores ainda não aconteceram; porém é de temer que elas venham a ocorrer, pois as notícias dos últimos dias indicam que, além de eventual incúria, não há o devido planejamento para prevenir e reparar danos em pontes, galerias, túneis e canalizações.
A nova cratera (Vila Guilherme) é, ao que tudo indica, obra da Eletropaulo, mas isso não tem relevância.
O que importa é que a cidade simplesmente não conhece os seus buracos e pontos fracos. Não há um cadastro unificado das obras que cada empresa pública constrói nos subterrâneos. As chances de a obra de uma empresa defrontar-se inopinadamente com a de outra, provocando desastres, não são desprezíveis.
Em vez de cuidar da manutenção do que já existe e reforçar a segurança dos inúmeros calcanhares-de-aquiles da cidade, o poder público dá prioridade à construção de obras suntuosas e bastante visíveis, chegando, por omissão, a colocar em risco a segurança dos cidadãos.
Do ponto de vista político isso faz sentido -invisíveis obras subterrâneas não rendem votos-, mas o compromisso primeiro do Estado é para com a segurança e bem-estar do cidadão, não para com a perpetuação de tal ou qual grupo no poder.
Até por motivos meramente econômicos, manter a cidade de pé é tarefa básica da administração pública.

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