São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Além de qualquer dúvida?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Há duas maneiras de encarar a condenação de José Rainha Júnior, líder do MST:
1 - Foi condenado apenas o participante de assassinatos, o que é bom, até exemplar.
2 - Foi condenado, antes e acima de tudo, o ativista político, o que é péssimo, embora também exemplar, mas pelo lado negativo.
Determinar qual das duas hipóteses é a verdadeira exige saber se Rainha, no dia do fato, estava em Pedro Canário (ES), o local do crime, ou em Fortaleza (CE), como ele alega.
Como Rainha não poderia estar nos dois locais ao mesmo tempo, mentem ou as testemunhas de defesa, que o viram no Ceará, ou as de acusação, que o viram em Pedro Canário.
É possível encontrar motivações para mentir em qualquer dos lados. Os que viram Rainha no local do crime podem estar sob influência de parentesco ou conhecimento das vítimas, ou com medo dos poderosos locais.
Os que dizem ter visto Rainha em Fortaleza podem estar acobertando alguém com cuja luta política se identificam, embora dois deles sejam vereadores de partidos (PMDB e PSC) que não são exatamente compatíveis com o MST.
O que decididamente não encaixa é o depoimento do coronel da PM cearense Sebastião Leandro Cavalcante, que garante ter feito a segurança de uma reunião em Fortaleza a que Rainha compareceu, no dia dos fatos.
Oficiais da PM são educados para desconfiar de tudo o que seja ou pareça ser "agitação", palavrinha que, no Brasil, ganhou conotação de enorme amplitude.
Seu chefe imediato, Tasso Jereissati, não é nenhum troglodita político, mas tampouco morre de amores pelos métodos do MST.
Por isso, o depoimento do coronel permite deduzir que a presença de Rainha em Pedro Canário não está demonstrada além de qualquer dúvida razoável, critério primário para condenar alguém.

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