São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Presidente da CSN nega cartel do aço

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamim Steinbruch, negou ontem, em Belém (PA), que a empresa tenha feito acordo com outras usinas para uniformizar preços de produtos siderúrgicos.
Ele disse que vai tratar da defesa da CSN a partir da próxima quarta-feira, quando voltar ao Rio.
"A gente briga bastante por mercados e preços com as concorrentes. Os grupos são muito antagônicos. Não tem cartel. Não existe essa possibilidade", disse.
Anteontem, a SDE (Secretaria de Direito Econômico) abriu processos administrativos contra empresas de siderurgia, medicamentos e insumos para companhias de saneamento. Algumas empresas teriam fixado reajustes uniformes e simultâneos, o que indica cartelização (acordo de concorrentes).
No processo contra as siderúrgicas, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda detectou preços combinados entre as produtoras de aços planos.
Em agosto passado, as empresas fizeram reajustes parecidos. Em maio último, as siderúrgicas anunciaram reajustes simultâneos entre 8% e 12%.
O presidente da SDE, Rui Coutinho, determinou o cancelamento dos aumentos que vigorariam a partir do próximo dia 27. A CSN, a Usiminas e a Cosipa terão de explicar os reajustes.
O diretor-executivo do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), Marco Polo de Mello Lopes, disse ontem ter ficado "surpreso" com as informações de que a Seae detectou um cartel de aços planos.
Mello Lopes disse não ter sido comunicado oficialmente da decisão do governo.
O dirigente da entidade empresarial disse ter perguntado a Gesner Oliveira, do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), há uma semana, se havia processo contra as empresas e ele teria dito, segundo Lopes, que não.
"Participamos, a nosso pedido, de reunião com a SDE, Secretaria de Política Econômica, Seae e Cade e ficou acordado que as empresas seriam chamadas para prestar maiores informações", disse.
Ele justificou os reajustes das siderúrgicas afirmando que elas têm "o mesmo processo produtivo" por terem sido estatais.
"As três têm um 'pool' para a compra de carvão, as três compram minério de ferro e as três sofrem o mesmo impacto da Vale do Rio Doce."
Para ele, foi criado um grande movimento para o retorno aos "bons tempos do aço subsidiado".
Remédios
O presidente-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), José Eduardo Bandeira de Mello, disse que a entidade não interfere nos preços praticados pelos laboratórios. Ele se referia ao ofício que a Seae enviou anteontem à associação pedindo ao setor que reduza voluntariamente os preços.
Mello disse que conversou ontem com o secretário de Acompanhamento Econômico, Bolívar Moura Rocha. "Ele pediu que deixasse claro o teor do fax que enviou e que acredita em saídas alternativas para a questão dos preços", afirmou.
Mello se reuniu ontem com 45 empresários do setor que, segundo conta, concordam que "o governo não sucumbiu à tentação do tabelamento. Mas vai cumprir a lei e tem arsenal para reprimir o abuso nos preços".
Quanto ao processo contra a Hoechst Marion Roussel, Mello se declarou surpreso. "Eles pleitearam o aumento quando ainda havia 'liberdade vigiada' de preços."
Procurada pela reportagem da Folha, a Hoechst informou não ter sido informada oficialmente sobre o processo que sofre.

Colaboraram a Sucursal do Rio e a Reportagem Local

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