São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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INVESTIMENTOS E DÚVIDAS

Os investimentos estrangeiros no Brasil estão crescendo. O endividamento externo também. Os investimentos diretos chegaram a US$ 6 bilhões entre janeiro e maio, ou espantosos 76,8% mais do que em igual período do ano passado. A captação de recursos nos mercados financeiros internacionais também se acelera, liderada pelo setor privado.
E, à medida que esses dados vão sendo publicados, ganha intensidade o debate sobre o alcance da atual reinserção da economia brasileira no mercado global. Depois da crise da dívida, nos anos 80, a volta do país aos mercados é sinal de vitalidade ou reincidência nos erros do passado?
Há duas visões antagônicas. O governo aposta numa autêntica reestruturação produtiva, cuja resultante seria positiva. Os investimentos e os empréstimos externos crescentes não apenas ajudariam a financiar o desequilíbrio no comércio como até mesmo serviriam para justificá-lo.
Afinal, uma empresa estrangeira que constrói uma fábrica compra no exterior novos equipamentos. Muitas, antes de investir, importam seus produtos para testar o mercado. E a disponibilidade de financiamento nos mercados internacionais é, em si mesma, uma justificativa para o aumento das compras externas.
Entre as conclusões dos pessimistas, a partir da observação da mesma realidade, destaca-se o receio de que nada de novo esteja ocorrendo. E que a velha tentação de socorrer-se de fundos externos, recorrente no Brasil e na América Latina, esteja de volta. Sem ajuste fiscal, sem aumento da poupança doméstica, sem reformas no Estado, haveria não uma redefinição da inserção externa, mas apenas um aprofundamento da dependência, com risco cambial crescente.
Trata-se de um contraponto cuja solução exigirá análises, por setor econômico, mais detalhadas. Nesse terreno, tanto o governo quanto os críticos deixam a desejar.
Mais investimentos e mais dívidas favorecem o otimismo, mas não podem justificar qualquer ingenuidade.

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