São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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A onda rosa e os anéis

CLÓVIS ROSSI

Amsterdã - Há de fato uma "onda rosa" na Europa, tal como dizem quase todos, após as vitórias dos trabalhistas na Grã-Bretanha e dos socialistas na França?
Não, se a avaliação se basear apenas nesses dois eventos. O que houve no Reino Unido foi muito mais fadiga de material. Ninguém, nem os pacientes ingleses, aguenta mais de 18 anos de um governo (conservador ou não, pouco importa).
Na França, repetiu-se o que vem ocorrendo em todas as eleições legislativas desde 1981: o governo perde. Se é conservador, ganha a esquerda. Se é de esquerda, ganham os conservadores. Ponto.
Haveria, sim, uma onda rosa se se pudesse atribuir à social-democracia (o rosa da história) o chamado "modelo social europeu".
É um belo modelo, tanto que são europeus 15 dos 20 primeiros colocados no ranking mundial de qualidade de vida (o Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado quarta-feira pelas Nações Unidas).
Mas o vagalhão neoliberal que assola o planeta está querendo mexer no modelo, a pretexto de que ele é pouco competitivo.
O eleitorado está reagindo contra o ataque ao modelo. É, portanto, uma reação conservadora, como escreve Robert J. Samuelson, colunista da revista "Newsweek", no número desta semana.
Ele recorre ao dicionário Webster's, que define conservadorismo como "a disposição em política de preservar o que está estabelecido".
É isso. Só seria mesmo uma onda rosa se a social-democracia fosse a única responsável pelo "modelo social europeu". Não é. Trata-se de uma construção suprapartidária que funcionou como dique de contenção ao comunismo. Algo como entregar os anéis para preservar os dedos.
Morto o comunismo, o neoliberalismo quer recuperar os anéis, mas o eleitorado não parece disposto a entregá-los, não.

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