São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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DEPOIMENTO 1

"Sou desenhista e faço um estágio com meu pai na agência de publicidade onde ele trabalha.
Isso das 9h às 18h. A partir das 23h, faço 'ponto' na avenida Indianópolis (zona sudoeste). Fico junto com os travestis. Gosto de ser confundida com eles.
Eu tinha 18 anos quando quis fazer 'ponto' pela primeira vez. Um namorado me levou naquela parte barra-pesada da rua Augusta, e eu fiquei completamente fascinada.
Na mesma semana eu voltei lá sozinha, de peruca, meia arrastão e bota. Gosto de me vestir de puta, tenho fetiche, tesão mesmo.
Meus pais e minhas irmãs nunca souberam (pelo menos, nunca comentaram nada). Mesmo que algum conhecido me veja na rua e conte para eles, ninguém vai acreditar. É muito distante da nossa realidade.
De qualquer forma, para que ninguém levante suspeitas, digo em casa que tenho uma 'turma'.
Já tive proposta para trabalhar nessas casas fechadas dos Jardins, mas meu negócio é rua. Antes de sair de casa com peruca, algemas, consolos, bebo um pouco para me soltar.

Adriana, 22, é desenhista, estagiária e usa cabelos pretos de dia.

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