São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Homem é a maior vítima da violência urbana no Rio

DANIELA FALCÃO
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

As vítimas da violência urbana ocupam cada vez mais leitos nas emergências dos hospitais públicos do Rio de Janeiro.
A maioria das vítimas é do sexo masculino, tem entre 15 e 29 anos e recebe de um a três salários mínimos por mês.
O Hospital Municipal Miguel Couto -zona sul- tem a maior e mais bem equipada emergência do Estado e é um espelho do impacto que a violência urbana causa no sistema público de saúde.
Em 89, o Miguel Couto atendeu 82 pessoas atingidas por projétil de arma de fogo. Só nos primeiros quatro meses do ano passado, o número de feridos a bala já era superior a 500.
Também em 89, 314 crianças e adolescentes entre 0 e 18 anos foram atendidos porque tinham sofrido algum tipo de violência. Em 92, eles já eram 534 -um aumento de 56,6%.
Cerca de 63% das vítimas de violência doméstica que dão entrada nas emergências do Miguel Couto e no Salgado Filho (maior hospital da zona norte do Rio) são mulheres -17%, crianças.
Trânsito
Os acidentes de trânsito são os maiores responsáveis por mortes de vítimas da violência que dão entrada nos hospitais cariocas. Isso porque as pessoas atingidas por armas de fogo geralmente morrem no próprio local do crime.
"O Corpo de Bombeiros tem um serviço de resgate eficiente, que atende vítimas de acidentes de trânsito. Elas recebem socorro no próprio local e chegam rápido ao hospital. Mas quem leva um tiro na favela fica horas esperando resgate. Vai direto para o necrotério", diz a socióloga Suely Deslandes, coordenadora da pesquisa.
Um dado que surpreendeu as pesquisadoras foi a frequência com que o agressor era conhecido da vítima: 34% dos casos.
Assaltantes eram autores da agressão em 19,3% dos casos atendidos no Miguel Couto e 21,8% no Salgado Filho.
Quedas e atropelamentos
Quedas, agressões, acidentes de trânsito e atropelamentos são os tipos de violência urbana mais frequentes.
Cerca de 30% das vítimas estavam embriagadas ou foram feridas por alguém que estava.
No Miguel Couto, são atendidos pelo menos cinco atropelados por dia. É tão comum serem mendigos embriagados que há até um apelido: pimba (sigla de pé inchado, molambento, bêbado, atropelado).
O Miguel Couto recebe por dia, em média, 5,4 vítimas de batidas e 5,4 feridos em acidentes de transporte -quedas de bicicleta ou ferimentos ao subir e descer de ônibus.
Quedas
Os acidentes de trânsito só não causam mais vítimas do que as quedas: pelo menos 35 casos por dia no Miguel Couto.
Há outros dois tipos de vítimas da violência urbana que são encontradas com frequência cada vez mais acentuada nas emergências dos hospitais cariocas: as vítimas de violência doméstica e de agressões interpessoais -todo o tipo de ferimento cujo autor pode ser identificado e não é a própria vítima.
No Hospital Salgado Filho, são atendidos em média 6,2 casos de agressão interpessoal por dia e pelo menos três vítimas de violência doméstica.
Os casos de pessoas atingidas por balas perdidas são menos frequentes, mas assustam porque cresceram muito nos últimos anos.
No Salgado Filho, são atendidas em média 13 vítimas por mês. No Miguel Couto, 12.
(DF)

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