São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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OCDE anuncia a maior bonança da década

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os países industrializados terão em 97 o maior crescimento da década. Embora o noticiário econômico dos últimos dias tenha incluído dificuldades crescentes na implementação do euro e alguns estejam até mesmo acreditando numa "onda rosa" por conta da vitória dos socialistas na França, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um relatório com perspectivas, estas sim róseas, para a economia mundial nos próximos dois anos.
O clima de euforia ficou ainda mais completo com a divulgação de dados econômicos nos EUA mostrando que não há pressões inflacionárias. Wall Street continua batendo recordes de valorização. Há dinheiro farto para emprestar aos países em desenvolvimento. A economia norte-americana, sob o presidente Clinton, atravessa um dos mais notáveis períodos de prosperidade do pós-guerra.
Parecem ter desaparecido alguns problemas que sempre foram apontados como entraves decisivos à prosperidade, como a persistência de déficits públicos, o aumento do desemprego e da desigualdade entre regiões, setores e classes sociais ou mesmo o consumismo com queda na poupança nas economias desenvolvidas.
Como na realidade essas dificuldades continuam existindo, ouve-se cada vez mais diante da onda de prosperidade que varre o planeta a tese de que a teoria econômica está errada. Sobretudo nos Estados Unidos, ganha força a tese de que o crescimento vigoroso sem ameaça inflacionária é fruto de uma revolução tecnológica capaz de abalar os teoremas tradicionais.
O crescimento médio nos 29 países membros da organização será de 3% em 1997 e um pouco inferior em 1998 (2,7%). As cifras foram ajustadas para cima em comparação com o relatório da OCDE publicado em dezembro do ano passado. Nos EUA, o crescimento deve atingir 3,6% neste ano, caindo para 2% em 98. Na América Latina o cenário também é de alta (4,5% para o Brasil em 97 e 4% em 98).
Entretanto, o otimismo da OCDE tem seus matizes. No caso da América Latina, por exemplo, o relatório sublinha que apesar do crescimento esperado em 97 e 98 os déficits externos preocupam.
Para quem já comemora a vitória final contra a inflação, o informe da OCDE também sugere cautela, notando que a inflação continua forte demais em toda a América Latina, com exceção da Argentina. A tendência inflacionária geral é declinante, entretanto, supondo-se que sejam mantidas altas taxas de juros reais, alto desemprego e valorização da taxa de câmbio.
Assim, pelo menos no que se refere à América Latina, o paradoxo da abundância em meio à deterioração de alguns indicadores fundamentais fica menos esotérico.
A rigor, o que estaria acontecendo, a julgar pela análise da OCDE, é um processo de crescimento e estabilização explicado precisamente pela opção feita em favor de políticas que sacrificam as contas públicas, o emprego e as exportações.
No mundo desenvolvido talvez haja razões para suspeitar da sustentação, no longo prazo, da atual euforia. Na América Latina, entretanto, a própria OCDE mostra que ao menos por enquanto a teoria econômica existente basta para duvidar do milagre.

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