São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Costa e Zezé divergem sobre sistema de húngaros

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Os técnicos da seleção brasileira nas Copas que antecederam e sucederam a conquista da Olimpíada de 52 pelo futebol húngaro têm opiniões divergentes sobre a tática empregada pela equipe de Puskas.
Flávio Costa, 90, técnico do Brasil na Copa de 50, e Zezé Moreira, 89, na de 54, vivem no Rio. Muito lúcidos, continuam acompanhando com atenção o futebol.
Para Costa, o sistema 4-2-4 (quatro defensores, dois meias e quatro atacantes) da melhor equipe que a Hungria já montou no futebol foi uma evolução natural do "WM".
"Em 50 (Brasil vice), nós usamos o 'WM"', diz Costa. "Ele é a mãe de todos os sistemas. Todas as variações surgiram a partir dele."
Como indicam as letras, nesse sistema clássico havia três zagueiros, dois meias, dois atacantes mais recuados e três atacantes à frente, enfiados.
"As mudanças foram surgindo de acordo com as necessidades", afirma Costa. "No futebol não se criam sistemas com teodolitos, para aproveitar o campo, mas com as características dos jogadores."
Zezé Moreira, ao contrário de Flávio Costa, não considera 4-2-4 o sistema da seleção húngara que triunfou na primeira metade da década de 50. Para ele, era 4-3-3.
Mestre de Telê Santana, Zezé diverge, portanto, até de Ferenc Puskas, o astro maior daquele time.
A prova? Para Zezé, o próprio Puskas. "Ele já voltava mais para armar, como terceiro jogador de meio-campo, não ficando apenas na frente", diz. "O time tinha uma forma de jogar interessantíssima."
Zezé a conheceu bem -o Brasil foi eliminado em 54 pelo próprio time húngaro, 4 a 2 nas quartas-de-final. A análise tática que Zezé faz do Brasil de então reabre uma polêmica. "A nossa equipe também já jogava num 4-3-3."
O atual técnico da seleção, Mario Zagallo, reivindica para si a introdução, como jogador, do 4-3-3 na equipe nacional. Zagallo costuma dizer que a seleção jogava em 4-2-4 até a Copa de 58, quando ele, em vez de jogar como ponta-esquerda tradicional, recuou para o meio de campo, para ajudar na marcação.
Para Zezé, no entanto, o time de 54 já atuava assim. Ele conta que, ao contrário de alguns relatos, o time que encarou a Hungria já sabia como o adversário se organizava.
"Levei os meus jogadores para verem a seleção húngara jogar", diz Zezé. Depois, quando os europeus excursionaram pelo Brasil, ele os assistiu novamente. "Eram extraordinários", lembra.
A admiração, porém, não o impediu de usar uma chuteira de Didi para brigar com húngaros no vestiário, depois de, no gramado, Maurinho socar na barriga Czibor, que recusara um aperto de mão.
O jornalista Alberto Helena Jr., que viu o húngaro Bela Guttmann treinar o São Paulo, diz que o 4-2-4 já era incipiente no Brasil desde o início da década de 50.
"A chamada 'diagonal' do Flávio Costa já aproximava o WM do 4-2-4. Guttmann deu mais praticidade ao jogo. Ele chamava o seu sistema de pim-pam-pum: três passes e chute para o gol."

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