São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Sydney luta contra a ameaça de caos
RÉGIS ANDAKU
A pouco mais de três anos da cerimônia de abertura dos Jogos de 2000, Sydney luta para não passar ao resto do mundo a impressão de que, se não for a mais apagada, essa será a Olimpíada mais "problemática" da história. O Socog, comitê australiano encarregado da organização da próxima Olimpíada, nega, óbvio. Já o Comitê Olímpico Internacional diz não saber de nada e ter "'plena confiança" no Socog. Mas a cidade vem lutando para superar uma série de imprevistos que, se não coloca em risco a realização dos Jogos, tira o sono tranquilo dos aristocráticos membros do COI, a quem, quatro anos atrás, coube a facilidade da escolha. Os problemas intimidam não tanto pela dificuldade de suas soluções -parte delas será resolvida certamente-, mas simplesmente pela sua existência. Risco e certeza Consultados pela Folha, dois técnicos espanhóis, especialistas em Jogos Olímpicos e que ajudaram a falida campanha Rio-2004, disseram que nas eleições de sede o COI opta entre duas saídas: fazer a Olimpíada em uma cidade que apresenta "risco zero" ou em um país em desenvolvimento. Nesse último caso, se encaixariam os Jogos de Barcelona, na Espanha, em 1992, e os de Seul, na Coréia do Sul, em 1988. Na relação das cidades que não oferecem risco algum, estariam Los Angeles, em 1984, Atlanta, em 1996, ambas nos EUA, e...Sydney. Sydney, aliás, para comprovar a tese dos espanhóis, venceu na última rodada da eleição Pequim, a capital da China, país em maior ascensão àquela época. Reação em cadeia O primeiro grande imbróglio para os organizadores dos Jogos de Sydney foi a decisão de tomar medidas antiterrorismo que não constavam nos planos originais. O atentado em Atlanta, no qual morreram duas pessoas, importou. Atlanta, como Sydney, era "risco zero", lembre-se. Cogitou-se até uma revista policial a todas as casas próximas ao futuro parque Olímpico. Além desses vizinhos olímpicos, que reclamam de invasão de privacidade caso a revista se consume, outro grupo está em permanente protesto: os aborígines. População nativa, ela protesta contra várias obras, que, afirmam, estão em desarmonia com a Austrália "típica e natural". Mudança de planos e em construções acabaram por causar atraso em algumas obras. Somou-se a isso a ameaça de trabalhadores da construção civil de entrarem em greve por melhores salários. Provisoriamente, o problema foi resolvido, mas resultou em outro, pior que o esperado. Com os reajustes salariais -entre outros-, os custos dos Jogos sofreram um aumento considerável: passaram para 1,78 bilhão até a abertura da Olimpíada, simplesmente 43% a mais que o previsto. Para suprir essa nova despesa, o governo australiano, maior apoiador do Socog, adotou uma medida não inédita: aumentou impostos. Os tributos, todavia, não atingiram os contribuintes -nada pior do que isso para diminuir o apoio a Sydney-2000-, mas os hotéis. Com mais 10% de impostos, os estabelecimentos não hesitaram: declararam que vão descumprir acordo com o mesmo governo no qual se comprometiam a não aumentar abusivamente o preço de suas diárias durante a Olimpíada. Defesa oficial Ciente de todos esses problemas, o COI não se alarma. Ou pelo menos diz não se alarmar. Na última visita oficial para verificar o andamento da preparação da cidade, em abril, delegados do COI afirmaram estar plenamente satisfeitos com o trabalho e que não têm dúvida de que tudo estará pronto até os Jogos. Ainda que tenham feito ressalvas: lixo tóxico em área próxima à programada para eventos e incapacidade de lidar com possíveis problemas de tráfego. "Os australianos não estão acostumadoOLIMPÍADA Atentados, obras atrasadas, possíveis greves e protestos, aumento de despesas, impostos e preços assustam Sydney luta contra a ameaça de caos O Socog, comitê australiano encarregado da organização da próxima Olimpíada, nega, óbvio. Já o Comitê Olímpico Internacional diz não saber de nada e ter "'plena confiança" no Socog. Mas a cidade vem lutando para superar uma série de imprevistos que, se não coloca em risco a realização dos Jogos, tira o sono tranquilo dos aristocráticos membros do COI, a quem, quatro anos atrás, coube a facilidade da escolha. Os problemas intimidam não tanto pela dificuldade de suas soluções -parte delas será resolvida certamente-, mas simplesmente pela sua existência. Risco e certeza Consultados pela Folha, dois técnicos espanhóis, especialistas em Jogos Olímpicos e que ajudaram a falida campanha Rio-2004, disseram que nas eleições de sede o COI opta entre duas saídas: fazer a Olimpíada em uma cidade que apresenta "risco zero" ou em um país em desenvolvimento. Nesse último caso, se encaixariam os Jogos de Barcelona, na Espanha, em 1992, e os de Seul, na Coréia do Sul, em 1988. Na relação das cidades que não oferecem risco algum, estariam Los Angeles, em 1984, Atlanta, em 1996, ambas nos EUA, e...Sydney. Sydney, aliás, para comprovar a tese dos espanhóis, venceu na última rodada da eleição Pequim, a capital da China, país em maior ascensão àquela época. Reação em cadeia O primeiro grande imbróglio para os organizadores dos Jogos de Sydney foi a decisão de tomar medidas antiterrorismo que não constavam nos planos originais. O atentado em Atlanta, no qual morreram duas pessoas, importou. Atlanta, como Sydney, era "risco zero", lembre-se. Cogitou-se até uma revista policial a todas as casas próximas ao futuro parque Olímpico. Além desses vizinhos olímpicos, que reclamam de invasão de privacidade caso a revista se consume, outro grupo está em permanente protesto: os aborígines. População nativa, ela protesta contra várias obras, que, afirmam, estão em desarmonia com a Austrália "típica e natural". Mudança de planos e em construções acabaram por causar atraso em algumas obras. Somou-se a isso a ameaça de trabalhadores da construção civil de entrarem em greve por melhores salários. Provisoriamente, o problema foi resolvido, mas resultou em outro, pior que o esperado. Com os reajustes salariais -entre outros-, os custos dos Jogos sofreram um aumento considerável: passaram para 1,78 bilhão até a abertura da Olimpíada, simplesmente 43% a mais que o previsto. Para suprir essa nova despesa, o governo australiano, maior apoiador do Socog, adotou uma medida não inédita: aumentou impostos. Os tributos, todavia, não atingiram os contribuintes -nada pior do que isso para diminuir o apoio a Sydney-2000-, mas os hotéis. Com mais 10% de impostos, os estabelecimentos não hesitaram: declararam que vão descumprir acordo com o mesmo governo no qual se comprometiam a não aumentar abusivamente o preço de suas diárias durante a Olimpíada. Defesa oficial Ciente de todos esses problemas, o COI não se alarma. Ou pelo menos diz não se alarmar. Na última visita oficial para verificar o andamento da preparação da cidade, em abril, delegados do COI afirmaram estar plenamente satisfeitos com o trabalho e que não têm dúvida de que tudo estará pronto até os Jogos. Ainda que tenham feito ressalvas: lixo tóxico em área próxima à programada para eventos e incapacidade de lidar com possíveis problemas de tráfego. "Os australianos não estão acostumados com engarrafamentos", saiu pela tangente Jacques Rogge, do COI. Texto Anterior: Costa e Zezé divergem sobre sistema de húngaros Próximo Texto: O logotipo; Os mascotes; Sapos em perigo; Cangurus de plástico; O comércio; Imposto olímpico; Contagem regressiva Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |