São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Ruindade no futebol é como vírus

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As primeiras cenas da Copa América me causaram depressão. A Argentina, que tem penado nas mãos de Passarella para chegar à França, submeteu-se a um Equador sem nem mesmo o talento de sua maior estrela, Aguinaga. O Uruguai, um pesadelo: nem o carisma da gloriosa camisa celeste olímpica levava avante aquele bando de neófitos assustados que se subjugou ao Peru de Oblitas, esse mesmo Peru que, nas eliminatórias, levava uma biaba em cada esquina.
A Copa América era um deserto de gols. Um vasto zero a zero, pontilhado pelo oásis de uma palmeirinha plantada pelos paraguaios do brasileiro Carpeggiani. Isso até que o Brasil entrasse em campo. Quer dizer: alguns minutos antes, quando México e Colômbia deram um pouco de vida e cor ao torneio, na preliminar de Brasil e Costa Rica.
O México, ativo, como sempre, mas sem muita imaginação, meteu 2 a 0 no primeiro tempo, para acender uma vela no segundo, quando a Colômbia, toda reformulada, deu-lhe um sufoco digno da virada que não se concretizou: 2 a 1.
Brasil em campo, certeza de goleada. Se assim deveria ser diante de qualquer daqueles simulacros de times que desfilaram até então, que dizer da Costa Rica, meu Deus?
Bola rolando, porém, começo a afundar na poltrona. É a síndrome da Copa América, justifico-me aos meus botões. Já ouvi dizer por aí que ruindade, no futebol, é como esse vírus da gripe que chega com o inverno: vai se espalhando, se infiltrando em meio aos agasalhos, passa pelo cachecol e, quando menos se espera, pronto! Pega, derruba e não larga.
Será? O fato é que eis os homens de vermelho se espalhando pelo campo, jogando como se estivessem disputando a Concacaf, com um desses vizinhos deles lá, hondurenhos, salvadorenhos, que sei. Só sei que o Brasil consegue se aprumar pra lá dos 15 minutos, isso depois de o juiz dar uma mãozinha, desviando os olhos do pênalti feito por Gonçalves.
Mesmo assim, para tomarmos conta da situação foi preciso um gol de falta -magistral-, de Djalminha, e um contra do capitão inimigo. Aí, todos caíram na real, e a goleada foi inevitável: 5 a 0, sem contar o sexto, de Edmundo, legalíssimo, que o juiz anulou.
Ronaldinho fez dois, Romário fez o dele, tudo em casa. Quer dizer: mais ou menos, se levarmos em conta a inexplicável reação de Romário ao ser substituído por Giovanni.
É incontestável: Romário saiu xingando. Claro que dirá que xingava o juiz, o ônibus que não parou no ponto ou o cachorro do vizinho que late à noite. Resumindo: a bronca fica em família.
Na verdade, desconfio que Romário queria ficar em campo pra dar uma força a Edmundo, seu velho chapa. Nesse caso, a melhor maneira de ajudá-lo seria ceder seu lugar no ataque, posto que, entrando no papel de Djalminha, Edmundo já estava começando a complicar com seu proverbial individualismo. Tanto, que Zagallo, velho lobo dos campos, já sacou Giovanni do banco para tentar acertar as coisas. Mas Giovanni... Enfim, Giovanni, claramente, carece de jogo. E de apoio.

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