São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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5. ELIOT PARA DJUNA

19 de agosto de 1949

Querida Djuna:
Ah, querida, como eu fui ingrato e descortês, mas este foi um verão infernal. Mas eu sei que você é gentil e tolerante. Sim, eu devo lhe agradecer pelos dois pacotes de Kool's (como eu odeio aqueles pinguins metidos a engraçadinhos, mas os cigarros são melhores que os Chesterfields para a minha garganta) e pela inestimável remessa de bolinhos, arroz e outras coisas gostosas. Eu deveria ter escrito para dizer que fico FELIZ de poder continuar a pagar pela sua mobília (é uma espécie de garantia de que você voltará para usá-la você mesma), mas, por favor, não exagere suas responsabilidades, Djuna querida, porque é importante que também você coma tão bem quanto eu; afinal de contas, eu até que estou bem com a moeda local desvalorizada e, comparado às outras pessoas, com certeza não vou morrer de fome e, se todos morrermos de fome juntos, bem, isso seria mais justo e conveniente do que morrer entre operários plutocráticos que podem comprar quantos bifes quiserem enquanto você não pode.
E agora: venda qualquer parte da sua obra em andamento e consigo o preço mais alto que puder. Ninguém se magoará por aqui; e podemos sempre dizer que foi uma boa propaganda antecipada. Não seja excessivamente escrupulosa -apenas faça-os pagar um pouco mais do que oferecerem. O que é "Mademoiselle"? Soa pornográfico. Não importa. Eleve o nível do pornográfico.
Estou apressadíssimo no momento: vou para Edimburgo amanhã, onde a minha nova peça ("The Cocktail Party" é o título, mas é só para atrair o público -o nome esotérico é "Upadhammam Samuppada", mas ninguém bancaria uma peça com um nome destes). Bem, veremos.

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