São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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A exclusão absoluta

"Por acaso os habitantes de outros bairros vêm perambular nesses subúrbios tão próximos, tangentes às cidades de que estão separados? Não, porque eles são considerados, muitas vezes com razão, perigosos. Mas será que se imagina que seus ocupantes já foram, eles próprios, empurrados para o meio daquele perigo que cada um teme: a exclusão social permanente, absoluta, a ponto de ser banalizada? (...)
Entre esses 'jovens', esses habitantes dos bairros que chamamos 'difíceis' (mas que são justamente aqueles onde pessoas em grande dificuldade tentam viver), não são os nomes de metralhadoras, mas o vazio o que substitui o nome de Mallarmé. O vazio e a ausência de qualquer projeto, de qualquer futuro, de qualquer felicidade pelo menos visualizada, da mínima esperança, mas que determinado saber poderia compensar, suscitando até certo prazer em percorrer esses caminhos que levam ao nome de Mallarmé. (...)
O ensino? Para esses alunos, poderia tratar-se de uma doação, de uma distribuição do que existe de melhor, de uma porção mágica autorizada, mas também de um único e último recurso. Um mínimo muito restrito lhes é proposto, interrompido o mais cedo possível. E essa noção de 'última chance', que sublinha sua miséria e o perigo que os ameaça, suscita, tanto nos professores como nos alunos, uma angústia insidiosa que exaspera as tensões."

Trechos do livro "O Horror Econômico", de Viviane Forrester

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