São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Vítimas do sucesso

GILBERTO DIMENSTEIN

Gordas contas bancárias e os avanços da medicina não conseguem prolongar a vida de ídolos populares, cercados de holofotes e multidões.
O professor de comunicação americano Jib Fowles fez a descoberta por acaso. Ele analisava o impacto cultural dos cem mais importantes ídolos do país; estrelas como Elvis Presley, Marilyn Monroe ou Janis Joplin.
Pesquisou a idade em que cada um deles morreu. Constatou que, naquele grupo, a taxa de suicídios era quatro vezes maior do que entre a população em geral.
Ao comparar as idades, viu que a expectativa de vida dos ídolos era de 58 anos -menor, por exemplo, que a média no Brasil (66) e muitíssimo menor que a média americana, de 72 anos.
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A Associação Americana de Psicologia confirma que fama, estresse e morte precoce não são fatores isolados.
Numa publicação que acaba de lançar, a associação apresenta trabalhos sobre as consequências psicológicas do sucesso.
Um deles é uma investigação sobre 162 líderes políticos que chegaram ao topo de sua carreira quando ainda eram jovens, em países como EUA, Nova Zelândia, Canadá, Reino Unido e França. Conclusão: quanto mais cedo eles chegaram ao poder, maior a possibilidade de morrerem antes.
Essa tendência também aparece quando, em outros estudos, são analisados papas, monarcas britânicos e vencedores de Oscar.
Daí a suspeita de que fama gera estresse porque o indivíduo é permanentemente avaliado e tem sua privacidade invadida. Passa a desenvolver dependência da aclamação popular. Quanto mais cedo obtém sucesso, menores são suas defesas e maior sua imaturidade.
"A fama produz insegurança e ansiedade permanentes. Um dia você é tudo, no dia seguinte é nada", afirma a psicóloga Michele Harway, acostumada a tratar de celebridades na Califórnia.
Drogas e bebidas, comuns no meio artístico, se tornam válvulas de escape e criam um círculo vicioso de destruição.
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Um dos traços da cultura contemporânea é o culto ao sucesso a qualquer preço. É vendido justamente como se produzisse o efeito contrário, como se o sujeito de sucesso fosse automaticamente feliz.
Recém-lançado aqui, um livro revela, sem querer, a dimensão deste culto, em especial nos EUA. Título: "A Coisa Mais Importante que Eu Sei".
Formado em administração de empresas por Harvard, Lorne Adrain pediu a 75 personalidades que chegaram ao topo em suas carreiras e se tornaram figuras públicas, poderosas e cercadas de fama que escrevessem um bilhete manuscrito, respondendo à pergunta: o que de mais importante você aprendeu na vida?
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A lista de celebridades tem desde presidentes americanos -Bill Clinton, por exemplo- a vencedores do Nobel, ganhadores de medalha de ouro em Olimpíadas, artistas ou intelectuais de renome internacional.
Espremendo o que se lê, a maioria acha que tudo o que aprendeu só prestou porque o ajudou a ganhar fama. Não é o caso de Nelson Mandela ou do Dalai Lama, que preferiram dar dicas morais ou espirituais.
"O único fracasso é não tentar", ensina a tenista Martina Navratilova. Visão semelhante tem Bill Clinton: "Excelência requer um sonho que tenha valor, uma boa idéia de como realizá-lo, coragem para arriscar apesar do risco do fracasso".
"Se você quiser voar alto, prepare-se para ficar sozinho", aconselha o biólogo Edward Wilson, um dos mais importantes cientistas contemporâneos.
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O charme do livro é que, ao contrário do estilo auto-ajuda, nem tudo é óbvio -até porque os autores das frases são, em geral, mais inteligentes do que espertos.
Menino pobre de Nova York, o general Colin Powel é, hoje, uma das mais importantes lideranças políticas americanas, cotado para ser o próximo presidente. "Você vira um líder quando as pessoas seguem você em qualquer lugar. Nem que seja por simples curiosidade", afirma.
Uma das estrelas da indústria da informática, Esther Dyson recomenda: "Sempre cometa novos erros".
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A melhor frase é do historiador Arthur Schlesinger: "Ao perseguir a excelência, leve a vida muito a sério. Mas não se leve tão a sério".
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PS - Entre as obviedades, uma que vale a pena repetir é a produzida pelo ex-primeiro-ministro do Canadá Brian Mulroney: "Devemos governar para o que vai ser importante nos próximos dez anos e não para as manchetes dos próximos dez dias". Estão disponíveis por e-mail algumas frases do livro.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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