São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Indígena de Papua-Nova Guiné também perdeu direito

DA REDAÇÃO

O caso de Moore não é único. Em março de 1995, um indígena do grupo Hagahai, de Papua-Nova Guiné (Oceania), perdeu os direitos sobre o seu próprio material genético para os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, depois que o órgão obteve o direito de explorá-lo.
A história da patente dessas células -a primeira concedida para material humano de um grupo não-americano- começou há cerca de 14 anos.
Os Hagahais, hoje restritos a cerca de 260 membros, começaram a ter contato com o "mundo exterior" em 1983. Devido a problemas de saúde, começaram a visitar acampamentos de missionários batistas próximos a sua aldeia.
No ano seguinte, o governo papuásio resolveu fazer, pela primeira vez, um censo da população de Hagahai. A equipe foi acompanhada pelo antropologista médico norte-americano Carol Jenkins, ligado ao Instituto de Pesquisas Médicas de Papua (IMR).
Eles descobriram que os Hagahais sofriam de doenças endêmicas, bem como de outras doenças que haviam contraído depois de ter passado a frequentar as missões, o que fez com que sua população se reduzisse bruscamente.
Em 1985, Jenkins pediu financiamento à National Geographic Society para estudar os Hagahai, considerados por ele um grupo peculiar por ter índices de natalidade considerados baixíssimos.
Quatro anos depois, o IMR coletou amostras de sangue de 24 homens e mulheres do grupo. O sangue foi estudado e descobriu-se que estava infectado com um vírus parente do HIV, chamado HTLV-1, associado a algumas formas de leucemia.
Em meados de 89, cientistas dos NIH também começaram a estudar as células sanguíneas dos Hagahai e o vírus que as infectavam. Eles tentavam descobrir por que, apesar da contaminação, os Hagahai se mantinham saudáveis.
Em 1990, o órgão fez um pedido de proposta de patente sobre uma linhagem celular de um dos doadores Hagahais, um homem de 20 anos. O pedido só foi publicado oficialmente pelo United States Patent and Trademark Office (PTO) em 14 de março de 1995, sob o número US 5.397.696.
Segundo os pesquisadores, liderados pelo Prêmio Nobel de Medicina de 1976, Carleton Gajdusek, as células T do sistema de defesa desse homem, infectadas com HTLV-1, poderiam ser úteis no desenvolvimento de testes de diagnóstico de leucemias, mas também a fonte de uma cura para essa doença.
Gajdusek foi preso pelo FBI no ano passado, acusado de abuso sexual a crianças das ilhas Salomão. O pesquisador teria levado pelo menos 54 menores da Micronésia e Papua para sua casa, nos EUA.
O mesmo grupo que patenteou a célula do Hagahai também solicitou a patente de células de grupos das ilhas Salomão. Mas uma notificação dos NIH afirmou que não seriam divulgados os propósitos da patente por se tratar de "segredo comercial".

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