São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Nos provadores da cidade

XICO SÁ

Nada mais elevado para a alma masculina, nestes tempos de delicadeza perdida, do que sair com a sua Marília bela para comprar roupas. Melhor, comprar vestidos, sobretudo vestidos.
Segui-la não como um simples coadjuvante, mas como um Dirceu determinado, influente, participativo, a ponto de saber apontar a distinção de um "veludo devorado" da Equilíbrio.
Capaz de reconhecer, de longe, da calçada da loja, um falso couro ou admirar jérseis estampadinhos. Melhor: imaginar a gazela, saltitante, dentro daquele tomara-que-caia que revela as saboneteiras e omoplatas mais nobres desse mundo.
Homem o suficiente para sugerir, decidido, diante do vacilo consumista da amada, um top de látex de Alexandre Herchcovitch. Ou simplesmente acertar na compra de um tricozinho básico da Fit.
O recomendável é não circunscrever essa atitude a datas, como aniversários, por exemplo, mas tornar-se um verdadeiro voyeur de provadores em lojas, magazines e feiras da cidade.
O ato não vale se tiver apenas o objetivo consumista cardioliberal (tipo Dia dos Namorados). Falamos de um outro serviço, outra delicadeza, que não depende do calendário.
Com isso, não estaremos inventando nada, apenas resgatando uma atitude que fez parte do mundo dos nossos avós.
Principalmente nos grotões do interior do país, onde eles escolhiam os mais belos tecidos nos tabuleiros das Casas Pernambucanas ou optavam pelas chitas mais psicodélicas nos balaios das feiras do agreste e sertão.
Dirceu que é Dirceu reconhece o barroquismo de um Lacroix somente para impressionar a moça na fila de espera.
Homem que é homem é capaz de distinguir uma transparência Dolce & Gabbana de um explícito Versace, mesmo que não tenha grana para comprar nem mesmo um Beto Normal, estilista bom e barato dos manguezais de Pernambuco.

ONDE ENCONTRAR (em São Paulo) Equilíbrio - rua Oscar Freire, 1260. Alexandre Herchcovith, Alameda Franca, 631. Fit - r. Três Rios, 375 e r. Oscar Freire, 682

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