São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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Feldmann teme que duração diminua respeito a rodízio

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, Fábio Feldmann, 42, teme que a duração mais longa do rodízio deste ano diminua a obediência à operação.
No ano passado, o programa se estendeu de 5 a 30 de agosto. Este ano, está previsto para começar na próxima segunda-feira, 23, e prosseguir até 29 de agosto -sujeito a prorrogação em setembro.
Em 96, houve 95,2% de respeito médio ao rodízio, segundo a secretaria. Em entrevista concedida na sexta-feira, o secretário não arriscou palpite para 97. "O ideal é manter os índices do ano passado, mas não somos otimistas", disse.
Feldmann -do PSDB como o presidente Fernando Henrique Cardoso- criticou o governo federal por não combater a poluição dos caminhões. "Lamentavelmente, eu vejo uma omissão absolutamente total", disse.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
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Folha - Em 96, houve alta obediência à operação. O sr. espera que isso se repita este ano?
Fábio Feldmann - Não necessariamente. O rodízio deste ano é por um período mais longo. O ideal é manter os índices do ano passado, que, na média, ficaram próximos de 95% de adesão. Mas não somos otimistas, a operação vai durar meses e em 96 foi só em agosto.
Folha - Há um assunto que sempre volta nesta época, que é o IM (programa de inspeção e manutenção de veículos para controlar a emissão de poluentes e a segurança). Ele até hoje não saiu.
Feldmann - Não saiu, mas nós avançamos. O IM tinha duas dificuldades: resolver a relação do governo do Estado com a prefeitura (de São Paulo) e, dentro do governo do Estado, a articulação dos aspectos de segurança com os de poluição. Temos entendimentos avançados nas duas frentes.
Por que a demora? Ela é justamente para facilitar a vida do proprietário do automóvel, para que ele não tenha que se dirigir a dois lugares para fazer duas inspeções.
Folha - Não poderia ter havido essa negociação antes e assim evitar o transtorno para o motorista sem perder tanto tempo?
Feldmann -Eu gostaria muito que o IM tivesse sido feito antes, e a área de meio ambiente teria condições de fazer sua parte já faz tempo. Mas achamos que era melhor demorar um pouco e garantir que o cidadão seja protegido independentemente dessa demora.
Agora, a Secretaria do Meio Ambiente conseguiu outras coisas: um diesel com menor teor de enxofre, por exemplo. E negociamos com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para facilitar a renovação da frota de caminhões.
Folha - A Operação Caça-Fumaça está multando menos agora que em 1996. Ela é menos eficiente?
Feldmann - Houve melhora na emissão de fumaça preta (assessor informa que, em 96, secretaria estimava que 40% da frota de ônibus urbanos tinha emissão excessiva; para 97, estimativa é de 20%. Entre caminhões, haveria 50% da frota desregulada em 96 e cerca de 30% agora).
Também dirigimos essa ação para o treinamento de equipes de fora de São Paulo. O pessoal não está na rua porque está treinando equipes que vão multar no futuro.
Folha - Vai haver rodízio nos próximos anos?
Feldmann - Vai ter sim. O cenário que nós temos indica necessidade de rodízio nos próximos anos devido ao aumento perigoso da frota em São Paulo. Entram mais ou menos mil veículos por dia na região metropolitana. E os veículos velhos não saem da rua.
Folha - O esforço da secretaria e do governo Covas para combater a poluição é feito no mesmo passo em que o problema se agrava?
Feldmann - Eu acho que sim. Do ponto de vista do hardware, de obras, o governo do Estado está fazendo o rodoanel (cuja obra começa em 98), está aumentando o metrô, ampliando o número de trólebus, experimentando o álcool como combustível de ônibus, reaparelhando a CPTM e a Fepasa.
Folha - A secretaria preparou um documento sobre transporte sustentável em que as medidas de curto prazo são de 24 meses...
Feldmann - Eu vejo um salto de qualidade conceitual, porque não fizemos um anteprojeto de política de controle da poluição, mas um anteprojeto de política de transporte sustentável.
O que pode ser feito no curto prazo está sendo feito. Pelo menos na área de meio ambiente.
As questões são complexas e exigem soluções globais. É preciso adotar uma postura moderna, deixar de discutir o problema da poluição e discutir a mobilidade.
Folha - O motorista se pergunta se essas declarações de intenção serão de fato implementadas.
Feldmann - Eu não recebo isso como uma crítica a mim ou ao governo Mário Covas. A demora se deve à complexidade das questões, que nem sempre são perceptíveis para a sociedade.
Folha - O que mais seduz o paulistano no rodízio é o combate ao trânsito, não à poluição. Isso preocupa?
Feldmann - Não me preocupa. A poluição é muito menos perceptível do que a melhoria no trânsito. Acho isso absolutamente natural.
Folha - Isso não diminui o impacto provocador, como o sr. costuma chamar, ou conscientizador?
Feldmann - Não. Tanto que a campanha eleitoral do ano passado foi pautado pela primeira vez por uma ênfase na questão do transporte. Isso é um subproduto fundamental do rodízio.
Folha - Mas, como o sr. mesmo diz, o modelo vencedor na eleição foi justamente o que faz o rodízio ser necessário, que privilegia o transporte individual.
Feldmann - Sim, naquele momento. Mas acho que hoje o resultado seria diferente.
Folha - Dos 300 mil caminhões que circulam em SP, 100 mil estão liberados para circular por um corredor especial. Não é um grupo importante para se abrir mão?
Feldmann - A questão não é essa. É operacional. Sem o corredor, atividades importantes estariam comprometidas, como as exportações por Santos. E não teríamos nem onde reter os caminhões.
Fizemos um convênio com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que assumiu a obrigação de nos ajudar no combate à fumaça de caminhões de outros Estados (onde a multa paulista não chega para ser cobrada). Nenhuma ação foi tomada.
Folha - O Ibama nunca aplicou uma multa por fumaça preta?
Feldmann - Que nós saibamos, em função do convênio, não. Nem a Polícia Rodoviária Federal. No caso de chapa de outros Estados era, no mínimo, obrigação do governo federal. Eu só entendo que exista governo federal e Ibama para situações assim. Lamentavelmente, eu vejo uma omissão absolutamente total.

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