São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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Plano nega internação e mulher morre

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma família quebrou três computadores e a portaria da Casa de Saúde Nossa Senhora do Carmo, em Santa Cruz (zona oeste do Rio), ao ser informada de que a mãe, Zenaide Azevedo Moreira, 52, morrera no serviço de emergência do hospital pouco depois de ter sido negado seu pedido de internação.
O pedido foi negado pela Assim Assistência Médica porque a mensalidade do plano de saúde da mulher foi paga com atraso.
Zenaide Moreira era diabética e hipertensa. Como a família não tinha recursos para pagar um plano de saúde particular, o engenheiro Francisco Salles e a administradora de empresas Maria Cristina Salles, residentes no Leblon (zona sul) e patrões de Analete Azevedo Moreira, 23, uma das filhas de Zenaide, fizeram um plano na Assim para ela, que incluiu a mãe como dependente.
A mensalidade de maio foi paga no dia 6 de junho, com atraso de 20 dias.
Anteontem à noite, Zenaide se sentiu mal e foi levada pela família à Casa de Saúde Nossa Senhora do Carmo.
Lá, os filhos foram informados de que ela não poderia ser internada porque cada dia de atraso no pagamento gerava um dia de carência para o atendimento, mesmo após a quitação. Ou seja, ela só teria direito à internação a partir do dia 26.
Zenaide foi atendida pelo serviço de emergência do hospital, mas, segundo seu filho Luciano Azevedo Moreira, 22, o estado dela era grave e exigia internação em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
A casa de saúde tentou transferi-la para um hospital público, mas não encontrou nenhum com vaga em UTI. A mulher acabou morrendo três horas depois de ter dado entrada no hospital, à 0h40 de ontem.
Revoltada, a família destruiu os computadores e a portaria de vidro da casa de saúde. Igualmente revoltados, os patrões de Analete denunciaram o caso à imprensa.
A administradora Maria Cristina Salles diz que quando soube que a mãe de sua empregada havia entrado em coma, ligou para a Assim. "A funcionária me disse que nada podia fazer porque a carência por atraso de pagamento está prevista nos contratos e que ela seria demitida se descumprisse a rotina", disse.
O diretor da casa de saúde, Fernando Boigues, confirmou que a paciente não pôde ser internada por ter atrasado o pagamento do carnê do seguro-saúde. "A Assim não é a única que exige carência em caso de atraso. Isso é comum entre os planos", afirmou.
Segundo o diretor, Zenaide não teria sobrevivido mesmo com a internação porque seu estado era muito grave.
A reportagem da Folha ligou para a Assim. A atendente, que se apresentou como Valéria, disse que sua colega agiu de acordo com os regulamentos da empresa.

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