São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997 |
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"Dead Man" traduz poesia de Blake
MARILENE FELINTO
Mas estranheza não é sinônimo de má qualidade no trabalho de Jarmusch. Trata-se de um "filme de arte", como se diz, de enredo insólito e fotografia -em preto e branco, com direção de Robby Muller, de "Paris, Texas"- que lembra as próprias iluminuras impressas de William Blake. "Dead Man" (Homem Morto), chamado de faroeste pós-moderno na época de seu lançamento, é a história de Bill Blake, um jovem contador órfão (Johnny Depp) que vai em busca de um prometido emprego na cidade de Machine, no oeste americano do século 19. Mal chega à cidade, o pacato e ingênuo contador se envolve num crime em que morre o filho do homem mais poderoso do lugar. Blake, inocente mas com a cabeça a prêmio, foge e passa a ser perseguido por matadores. A fuga transforma-se numa longa viagem para lugar nenhum, pelas florestas nativas da América. Durante todo o trajeto, Bill Blake é acompanhado pelo índio Nobody (Gary Farmer), que o confunde (Bill é apelido de William, em inglês) com seu poeta preferido, William Blake. A transformação de Bill e seu encontro com Nobody podem ser vistos pelo prisma místico da poesia de Blake, muito embora Jarmusch já tenha dito que o filme não ensina literatura nem pretende ser uma biografia do poeta. Pode-se dizer que o contador Bill passa da inocência para a experiência, para usar temas do próprio Blake de "Cantos de Inocência" e "Cantos de Experiência". A viagem meio épica pelo oeste leva um ferido Blake no rumo da morte, tendo como guia a voz índigena da América, encarnada na figura de Nobody, que traduz a religiosidade e o inconformismo de um Blake visionário. Vídeo: Dead Man Produção: EUA, 1995, 121 min. Direção: Jim Jarmusch Com: Johnny Depp, Robert Mitchum, Gary Farmer, Gabriel Byrne, Iggy Pop Lançamento: Top Tape (tel. 011/826-3066) Texto Anterior: 'Dicionário' é comédia romântica brasileira Próximo Texto: Gonin - O Massacre Índice |
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