São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997 |
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Zé do Caixão diz ter claustrofobia
MAURICIO STYCER
"Toda vez que entro é como se tivesse morrido, é como se fosse a última vez. Suo frio. É o fim da vida", disse Zé do Caixão à Folha momentos antes de entrar no local de trabalho que o celebrizou. Um pouco preocupado porque o caixão que utilizou em sua performance no evento "Babel" não é o mesmo que o acompanha em sua carreira, Zé do Caixão instruiu os seis seguranças que o carregaram até o palco a aparafusarem apenas levemente a "casinha". "Já estou acostumado a entrar no caixão dos outros, mas não é a mesma coisa que entrar no seu", explica. À meia-noite da sexta-feira 13, finalmente, o caixão chega ao palco de "Babel". Em meio a muita fumaça, José Mojica sai da toca e começa o seu discurso delirante: "As emanações da sexta-feira 13 estão no ar. O ser humano, neste instante, se transforma num pára-raio. Se é fraco, o mal o dominará." O público grita, aplaude, vaia. Na verdade, o som impede que Zé do Caixão seja ouvido. O que talvez seja até melhor. Porque o discurso do cineasta em sua performance é realmente difícil de entender. "Estamos em Babel, mas é hora de o brasileiro prestigiar o brasileiro. Até a seleção brasileira goleou a Costa Rica hoje (o jogo foi 5 a 0). Que vocês sejam amaldiçoados se não continuarem prestigiando a cultura brasileira", ameaçou. A performance deveria acabar com a volta de Zé ao caixão, mas o artista preferiu deixar o palco com as próprias pernas. No camarim, tentou explicar um pouco melhor o seu espetáculo. "Esperava o povo revoltado, porque Babel era uma guerra de línguas, mas o povo estava pacífico", disse. E daí? "Quero salvar a juventude. Os jovens estão perdidos. Não sabem o que querem, se jogam nas drogas, se acham heróis usando drogas". Sobre o tema, Zé do Caixão diz estar se preparando para fazer um filme, intitulado, com alguma inspiração glauberiana, "Adolescência em Transe". Trata-se de um filme de terror, no qual o cineasta quer mostrar a crise que hoje é vivida pelos adolescentes brasileiros. Aos 62 anos, sete filhos, nove netos, Zé do Caixão se dedica a fazer pregações sobre a importância da virgindade entre adolescentes. "Eu estava defendendo a virgindade em Cuiabá, quando uma menina de 23 anos subiu ao palco e disse: "Você está certo. Eu mesma sou virgem, mas sou obrigada a dizer que transo por causa dos amigos'. Vê como a mulher está sendo fácil demais", reclama. Por volta de 0h30 de sábado, dia 14, Zé do Caixão arruma as suas coisas, embolsa um cheque de R$ 4 mil e deixa a "Babel" de Pinheiros. Ainda faria um outro show, na zona leste de São Paulo e, certamente, sofreria mais um pouco. Texto Anterior: Exposição reconstitui painel do século 18 Próximo Texto: Selma funde o mundão regional e o mundinho Índice |
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