São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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Zé do Caixão diz ter claustrofobia

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Descobriu-se em "Babel" que Zé tem medo do caixão. Em outras palavras: o cineasta José Mojica Marins aproveitou a sua participação no evento multimídia paulistano para revelar que, depois de entrar num caixão mais de 4.000 vezes nos últimos 34 anos, continua a sofrer de claustrofobia (medo de ficar em locais fechados).
"Toda vez que entro é como se tivesse morrido, é como se fosse a última vez. Suo frio. É o fim da vida", disse Zé do Caixão à Folha momentos antes de entrar no local de trabalho que o celebrizou.
Um pouco preocupado porque o caixão que utilizou em sua performance no evento "Babel" não é o mesmo que o acompanha em sua carreira, Zé do Caixão instruiu os seis seguranças que o carregaram até o palco a aparafusarem apenas levemente a "casinha". "Já estou acostumado a entrar no caixão dos outros, mas não é a mesma coisa que entrar no seu", explica.
À meia-noite da sexta-feira 13, finalmente, o caixão chega ao palco de "Babel". Em meio a muita fumaça, José Mojica sai da toca e começa o seu discurso delirante: "As emanações da sexta-feira 13 estão no ar. O ser humano, neste instante, se transforma num pára-raio. Se é fraco, o mal o dominará." O público grita, aplaude, vaia. Na verdade, o som impede que Zé do Caixão seja ouvido. O que talvez seja até melhor. Porque o discurso do cineasta em sua performance é realmente difícil de entender.
"Estamos em Babel, mas é hora de o brasileiro prestigiar o brasileiro. Até a seleção brasileira goleou a Costa Rica hoje (o jogo foi 5 a 0). Que vocês sejam amaldiçoados se não continuarem prestigiando a cultura brasileira", ameaçou.
A performance deveria acabar com a volta de Zé ao caixão, mas o artista preferiu deixar o palco com as próprias pernas. No camarim, tentou explicar um pouco melhor o seu espetáculo. "Esperava o povo revoltado, porque Babel era uma guerra de línguas, mas o povo estava pacífico", disse. E daí?
"Quero salvar a juventude. Os jovens estão perdidos. Não sabem o que querem, se jogam nas drogas, se acham heróis usando drogas".
Sobre o tema, Zé do Caixão diz estar se preparando para fazer um filme, intitulado, com alguma inspiração glauberiana, "Adolescência em Transe". Trata-se de um filme de terror, no qual o cineasta quer mostrar a crise que hoje é vivida pelos adolescentes brasileiros.
Aos 62 anos, sete filhos, nove netos, Zé do Caixão se dedica a fazer pregações sobre a importância da virgindade entre adolescentes. "Eu estava defendendo a virgindade em Cuiabá, quando uma menina de 23 anos subiu ao palco e disse: "Você está certo. Eu mesma sou virgem, mas sou obrigada a dizer que transo por causa dos amigos'. Vê como a mulher está sendo fácil demais", reclama.
Por volta de 0h30 de sábado, dia 14, Zé do Caixão arruma as suas coisas, embolsa um cheque de R$ 4 mil e deixa a "Babel" de Pinheiros. Ainda faria um outro show, na zona leste de São Paulo e, certamente, sofreria mais um pouco.

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