São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Monterey, 'pai' dos festivais, faz 30 anos RUBENS LEME DA COSTA RUBENS LEME DA COSTA; ROGÉRIO ORTEGA
ROGÉRIO ORTEGA O conceito de megafestival de rock nasceu há exatos 30 anos, na Califórnia, sob as bênçãos da contracultura, mas com a complacência do então chamado "sistema". A cidade de Monterey, a 160 quilômetros de San Francisco, hospedou, de 16 a 18 de junho de 1967, o "pai" de todos os outros festivais, de Woodstock aos atuais. A exemplo do Live Aid -embora em escala bem menor-, Monterey foi beneficente. À exceção do citarista indiano Ravi Shankar, nenhum dos outros 31 artistas ou bandas recebeu um tostão. E o sucesso do festival serviu para mostrar às grandes gravadoras a viabilidade comercial daquele tipo de música. Foi um garimpo muito lucrativo -especialmente no caso de Janis Joplin e Jimi Hendrix. O jornalista Stephen K. Peeples resumiu Monterey numa frase: "Foi a colisão do 'establishment' corrupto com a contracultura emergente, sem feridos". Com a organização a cargo do líder dos Mamas & Papas, John Phillips, e do produtor da banda, Lou Adler, talvez fosse impossível fugir à ênfase no "som da Califórnia" -os próprios M&P, Byrds, Grateful Dead, Jefferson Airplane. Monterey, no entanto, buscava uma abrangência que hoje seria rotulada de "world music", traduzida nas presenças de Shankar e do sul-africano Hugh Masekela, além dos britânicos The Who e Eric Burdon & The Animals. O público estimado nos três dias do evento, filmado pelo cineasta D.A. Pennebaker, foi de 200 mil pessoas -oito vezes a população da cidade, cerca de 26 mil pessoas. Apesar disso, e ao contrário do que aconteceria em Woodstock dois anos depois, os participantes se lembram do evento como bem organizado, com comida e bebida suficientes e boas acomodações. O lucro, de US$ 200 mil, foi destinado pela fundação criada para o festival, e existente até hoje, a várias instituições beneficentes. Equilíbrio Monterey parecia conter todo tipo de paradoxo. Só nele foi possível testemunhar policiais -braços do "sistema"- com flores enfeitando capacetes e motocicletas. Também só nele o público atraído por "San Francisco" -hino oficioso do festival, cantado por Scott McKenzie, que pedia que a platéia usasse flores nos cabelos- pôde ver Hendrix pondo fogo no palco ao final de seu show. Flores? Por fim, só ele equilibrou essas contradições. A ruptura viria em 1969, em Altamont, na mesma Califórnia, na ponta das facas dos Hell's Angels que mataram um espectador do show dos Rolling Stones. A máquina de fazer dinheiro, porém, está ativa até hoje. Texto Anterior: Zé do Caixão diz ter claustrofobia Próximo Texto: Evento mitificou Jimi e Janis Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |