São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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República Dominicana privatiza suas praias

RODRIGO VERGARA
ENVIADO ESPECIAL À REPÚBLICA DOMINICANA

É preciso ter espírito aventureiro como o de Cristóvão Colombo para descobrir o país que o navegador genovês escolheu para fundar a primeira cidade na América.
Na República Dominicana, o turista comum, seduzido pelo conforto dos hotéis, chega a esquecer que ali começou o Novo Mundo.
O poder de sedução dos resorts assemelha-se ao de um namorado apaixonado, que põe tudo a sua disposição. Dentro dos hotéis, o turista quase nunca põe a mão no bolso ou pergunta preços.
Um dos segredos dessa sedução está no pacote oferecido pela maioria dos resorts dominicanos, chamado de "tudo incluído".
Pagas com antecedência, as diárias incluem hospedagem, todo tipo de comida (das refeições normais até lanches em restaurantes self-service instalados na praia), bebidas nacionais e uso de diversos equipamentos esportivos.
O outro segredo esconde um lado perverso desse namorado atencioso. É que os hotéis praticamente se apropriaram do que o país tem de melhor: as praias.
Situada na segunda maior ilha do Caribe, a República Dominicana tem quilômetros de costa banhados por águas verdes e cristalinas. Parte da costa encontra o mar em paredões de recifes de coral.
A outra parte é o retrato do Caribe. As praias têm areia muito branca e milhares de coqueiros tombados pelo governo da ilha.
Contraste
O retrato caribenho, porém, mostra cada vez menos dominicanos. Uma das razões para isso é que os hotéis têm permissão para fechar as entradas das praias.
É assim em Puerto Plata, Samaná, Boca Chica e Punta Cana.
Vendedores ambulantes, por exemplo, são permitidos um por vez na maioria dos resorts.
Assim, o turista só deixa o hotel se de fato quiser conhecer a cultura do povo dominicano, que é muito atencioso, e os monumentos da época do Descobrimento, concentrados na capital, Santo Domingo.
Parece simples, mas não é. A estrutura eficiente e solícita dos hotéis contrasta com a realidade pobre e ineficaz do cotidiano local.
Santo Domingo, por exemplo, vive enfrentando um racionamento de eletricidade.
Em pleno "rush" da tarde, alguns cruzamentos simplesmente não têm semáforos funcionando, e não existem policiais suficientes para controlar o trânsito.
O racionamento obriga ainda o visitante a checar antecipadamente se o bar em que pretende ir à noite tem gerador de eletricidade.
Se não tiver, escolha um dia em que o racionamento esteja longe de seu destino, para não ter de ficar rodando no escuro à procura de outro lugar.

LEIA MAIS sobre a República Dominicana nas págs. 7-16 a 7-18

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