São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Motta ataca a Folha e critica reportagem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No depoimento de ontem na Câmara dos Deputados, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) atacou diversas vezes a Folha e seus jornalistas.
"É rancor puro, que encaro com grandiosidade do espírito cristão", afirmou.
No final de seu depoimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que durou cerca de cinco horas, Motta acabou fazendo o que classificou de "homenagem" ao jornal. Disse que a Folha prestou "um serviço à democracia".
Em suas críticas na etapa inicial do depoimento, Motta disse que as matérias publicadas pela Folha são "tipo de notícia irresponsável, que talvez coubesse interpelação".
Motta afirmou que a Folha estava sendo movida por "interesses comerciais", sem explicar o que queria dizer com isso.
Para o ministro, a reportagem da Folha sobre seu envolvimento na compra de votos foi "caluniosa" e "tendenciosa". E que a publicação era uma "vergonha" para a imprensa nacional.
Ele reconheceu, entretanto, que, com relação aos ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia, "há matéria de denúncia concreta".
Proibir grampo
Segundo ele, os deputados deveriam votar uma lei proibindo "grampo" e a sua divulgação, "senão vira esculhambação".
"Não podemos estimular uma sociedade de denúncia, de 'dedo-durismo'. Não é assim que se constrói uma sociedade", disse.
O ministro atacou os jornalistas Fernando Rodrigues, autor das reportagens sobre o mercado de votos, Carlos Heitor Cony, Janio de Freitas e o secretário de Redação Josias de Souza.
O argumento principal do ministro para desqualificar a reportagem da Folha era que as fitas não foram divulgadas na íntegra. E que não há citações diretas contra ele nas gravações.
Com vários exemplares da Folha nas mãos, o ministro recorreu com frequência ao jornal para se defender.
Em um determinado momento, chegou a dizer que as perguntas do "Senhor X" -como a Folha identifica o interlocutor dos parlamentares- eram feitas "pelo Fernando Rodrigues".
O ministro defendeu que o jornal libere a fita integral com as conversas do "Senhor X" com os deputados Ronivon Santiago e João Maia.
"Se é para apurar integralmente, tem que pedir a fita integral. Vocês deveriam procurar saber como foi feita a fita. Vocês se surpreenderiam", disse Motta aos deputados que assistiam seu depoimento.
A Folha não vai divulgar as fitas na íntegra para preservar o sigilo da fonte, um direito constitucional assegurado aos jornalistas.
Críticas
O presidente da CCJ, deputado Henrique Alves (PMDB-RN), e o relator do caso da compra de votos, Nelson Otoch (PSDB-CE), também criticaram a Folha durante o depoimento de Sérgio Motta.
Segundo Alves e Otoch, a Folha não teria prestigiado a comissão. Os dois argumentaram que solicitaram as fitas originais ao jornal, mas que nunca teriam recebido resposta.

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