São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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França insiste em nova regra para o euro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ

A França reacendeu ontem o sinal amarelo para o euro, a moeda única que os 15 países da UE (União Européia) pretendem lançar a partir de janeiro de 99.
Na véspera, o premiê holandês, Wim Kok, havia visto "luz verde" para o euro, a partir do acordo sobre o Pacto de Estabilidade e Crescimento (que virou Pacto de Estabilidade, Crescimento e Emprego).
O acordo estabelece pesadas multas para países que, depois de introduzido o euro, incorrerem em excessos orçamentários, como déficit superior a 3% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza de um país), que é o teto máximo para que cada país se credencie para o euro.
Menos de 24 horas depois, o ministro francês de Finanças, Dominique Strauss-Kahn, disse que o teto não deve ser rígido: "O princípio é o de se aproximar o mais possível de 3%. É preciso que os países mostrem que têm tendência a chegar a ele, mesmo que não o tenham alcançado".
É a clara explicitação da tendência a adoçar a interpretação do Tratado de Maastricht, que estabelece as regras para o euro, conforme a Folha já havia antecipado no domingo.
É igualmente uma colisão frontal com a Alemanha, que, pela voz de seu inflexível ministro de Finanças, Theo Waigel, repete sempre: "3% é igual a 3,0% e não, 3,2% ou 3,5%".
Entra a política
Por pouco, aliás, a França não passava diretamente do sinal verde para o vermelho.
Em entrevista à rádio RTL, o mais crítico dos socialistas franceses em relação aos critérios de Maastricht, o ministro para Assuntos Europeus, Pierre Moscovici, dizia:
"Os próximos seis meses serão absolutamente decisivos e, neles, haverá uma discussão política entre os europeus para saber se se faz ou não a moeda única".
Numa só frase, duas bombas: uma, a introdução da política numa discussão que os alemães querem restringir exclusivamente ao território econômico-financeiro.
A segunda, deixar aberta a porta para a não-introdução do euro.
A assessoria do primeiro-ministro Lionel Jospin saiu à caça dos jornalistas para a indefectível explicação de que fora "um mal entendido".
As declarações não refletiriam "nem a vontade política nem a estratégia do governo francês".
Seja como for, a "vontade política" do governo francês apareceu nítida nas afirmações de Strauss-Kahn, segundo as quais não pretende atacar o déficit "com medidas que afetem a demanda e o emprego".
Se é assim, só parece restar um caminho: aumentar impostos, o que não é nada fácil, porque a carga fiscal francesa já é recorde (45,6% do PIB).
Trégua
É natural, nesse ambiente carregado, que o acordo de segunda-feira, que permitiu acomodar provisoriamente as divergências entre França e Alemanha, tenha sido encarado mais como uma trégua.
"Amsterdã parece uma mera troca de roupas para as batalhas a virem", escreve, por exemplo, Lionel Barber, especialista em assuntos da UE do respeitado jornal britânico "Financial Times".
A batalha que se segue vai girar em torno da interpretação do Tratado de Maastricht, que, como diz Strauss-Kahn, dá de fato margem para que se aceitem, no euro, países com déficit superior a 3%, desde que a tendência seja de queda e esteja perto do número mágico definido pelo tratado.
O problema com essa interpretação é que a França (e também Itália e Espanha, tidos como pouco austeros) poderiam entrar, mas a Alemanha ficaria de fora.
Seu déficit, embora próximo de 3% (3,8% em 96), está subindo desde 94, em vez de cair.

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