São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 1997
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O MSV - Movimento dos Sem Vergonha

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, era impossível imaginar que a ignominiosa administração do futebol brasileiro pudesse descer mais -atingindo uma tal profundeza nos seus opróbrios que só em casos excepcionais o exercício de alguma racionalidade humana pôde suportar.
Mas ela esta aí demonstrando que sim, a escala das baixarias pode encontrar ainda notas mais graves na cacofonia geral que virou o futebol brasileiro -que é, verdadeiramente, um caso patológico.
A proposta, de saída casuística, de disputar o Campeonato Brasileiro de 1997 com 26 times, para acomodar os interesses do Atlético do Paraná, do Fluminense e até do Náutico é baseada no conceito, muito difundido entre os tiranossauros que se locupletam na republiqueta corrompida do futebol brasileiro, que só é possível consertar um erro elevando-o à sua máxima potência.
Para se repastar no banquete da carne podre do futebol brasileiro, todos os rapinas da civilidade moral e administrativa, todos os sabotadores da idéia de uma sociedade baseada em princípios éticos e transparentes, todos os salteadores da noção que prega que somente regras estáveis e valendo para todos podem construir a cidadania, engalanaram-se nas suas melhores roupas e nos seus piores interesses.
Pode-se discutir se a pena imposta ao Atlético-PR foi longe demais (alguns preferiam um simples rebaixamento); está em discussão a questão do direito de defesa do clube, que não foi respeitado.
Deve ser permanentemente questionado o fato de o Corinthians não ter sido punido, apenas o presidente do clube.
Mas não há dúvida que cabem punições ao rubro-negro do Paraná e ao alvinegro de São Paulo. São as punições extensivas aos times, por atos irregulares dos dirigentes, que garantem a estabilidade jurídica no esporte.
O que não pode é o cambalacho, que terá como efeito não a correção de uma possível distorção, mas a perpetuação das distorções e a destruição das precárias regras existentes.
Um dos fundamentos do futebol é a permanência das suas regras e dos sistemas de disputa. Quanto mais estáveis, mais público e mais faturamento para times, federações, ligas, jogadores etc.
O vice-presidente Marco Maciel perdeu uma ótima ocasião para continuar sem fazer nada, em vez de tentar interferir, da maneira oligárquica com a qual está acostumado, no futebol (lembre-se que ele é o vice "muderno" da era FHC...).
O ministro Íris Resende (Justiça), alçado a esta posição por uma conveniência conjuntural, só aumenta as dúvidas daqueles que desconfiam da sua competência para o cargo ao tentar interferir no processo em favor do time do Paraná.
E o Fluminense, com a sua banda de carnavalescos e folclóricos mascates da incúria federativa do futebol, procura políticos para rebolarem no infame cordão da bola furada.
Os 26 serão uma vergonha. Aliás, mais do que uma vergonha (até porque, nessa história, não são poucos os que participam do MSV, Movimento dos Sem Vergonha).
Os 26 serão uma burrice. Uma autofagia, uma medida autodestrutiva, pois quem perderá será o próprio futebol.

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