São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 1997
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MOTTA NO PALCO

O depoimento do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara foi, como era esperado, inócuo. A comissão que investiga o escândalo de compra e venda de votos pelo direito de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso não dispõe de poderes para convocar depoente algum e não possui até o momento outros elementos que possam ser oferecidos como contraditório à palavra do ministro.
Enfim, a comissão não tem como investigar seriamente nada. Seria difícil imaginar um meio mais efetivo para que essa apuração termine sem conclusão consistente ou credível.
Os principais envolvidos, a origem mesma do escândalo, renunciaram a seus mandatos de deputado para não serem cassados e mantêm-se em silêncio; os acusados de intermediar a compra e venda de votos para a emenda da reeleição ainda não foram ouvidos, e pode-se acreditar que dificilmente farão algo além de alegar sua inocência, sem agregar mais informações ao inquérito.
Nesse quadro, Motta, deputados e o país perderam seu tempo, numa inquirição fadada a nada esclarecer.
Por meio de períodos entrecortados de difícil compreensão -uma verdadeira algaravia-, Motta só repetiu que nada tem a ver com o escândalo da compra de votos. Não havia contraditório algum ou acareação que se lhe pudesse opor. A contestação baseada em fatos era quase impossível.
Ademais, Motta recorreu ao artifício de tentar desqualificar o denunciador, não a denúncia. Como esta Folha já alertou diversas vezes, os fatos relatados nas fitas são graves demais e exigem apuração por um foro devidamente capacitado.
Além dos canais legais competentes, o ideal seria a formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito -esta sim com poderes e força política- para investigar a fundo as suspeitas de corrupção. O país está farto do teatro da moralidade.

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