São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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O RELÓGIO DO REAL

As justificativas para o pesado desequilíbrio externo acumulado desde o lançamento do Real remetem quase sempre à idéia de que o Brasil estaria "comprando tempo" para ajustar suas contas no futuro. Mas os dados até hoje disponíveis não mostram a desejada rota de recuperação.
Em forte contraste com o crescimento de 111% das importações entre 1993 e 1996, as exportações tiveram pouco dinamismo. No mesmo período, as vendas ao exterior cresceram apenas 23,7%. A participação do Brasil no total das exportações mundiais vem caindo e atingiu, em 1996, o mais baixo nível desde 1971, segundo estatísticas do FMI.
Em tese, novos investimentos, com maquinário mais eficiente, melhorarão a competitividade dos produtos nacionais e permitirão assim aumentar as exportações. O raciocínio está correto, mas existe aí um problema de proporção. Ainda não são evidentes os sinais de que os investimentos e a reestruturação competitiva da economia serão suficientes para enfrentar a magnitude do déficit nas contas externas.
Como observou Paulo Nogueira Batista Jr. em artigo publicado ontem nesta Folha, a absorção de recursos do exterior cresceu em 10,1% do PIB entre 93 e 95, ao passo que os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) aumentaram só 2,2% do PIB no mesmo período. A conclusão é preocupante: o país está se endividando principalmente para financiar o consumo e a produção corrente.
É verdade que os investimentos mais recentes tendem a ser qualitativamente melhores que os de anos passados: a valorização cambial serve como uma espécie de subsídio à importação de modernos bens de capital. Segundo estudo recente, a participação das importações no mercado de bens de capital cresceu de 22,8% em 1993 para 38,6% no primeiro semestre do ano passado. Mas não se sabe qual será o tamanho do impacto dessa mudança qualitativa na melhoria da competitividade da indústria nacional.
O governo "compra tempo". Resta saber se isso significa uma postergação do problema ou uma tomada de fôlego para conter o déficit.

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