São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Clichês de "Mundo Perdido" entediam

FABRIZIO RIGOUT

O sujeito sai de casa no sábado para assistir a um filme de Hollywood esperando uma produção tecnicamente boa e um roteiro fácil de entender. Idealmente, a sessão vai ajudá-lo a esquecer o mundo real.
Nessa certeza, cai nas garras de "O Mundo Perdido" e uma hora depois está frustrado, sonhando com a rua lá fora.
A trama entedia por repetir fórmulas manjadas do moderno cinema de entretenimento. Cientista norte-americana, branca e de sensibilidade ecológica, vai parar em ilha onde vivem dinossauros sintetizados. Seu marido é enviado para salvá-la e o paraíso também. A filha negra, prodígio de voluntarismo, esconde-se na mala. Chegando lá, o inimigo da família muda: caçadores maus implementam safári de dinos.
Um terço do tempo é ocupado por perseguições automotivas e similares, com os já conhecidos efeitos de animação eletrônica. Se for levar seu filho, esteja preparado para mortes sangrentas do tipo homens comidos vivos por centenas de dinossaurinhos.
Por fim, os coadjuvantes. São pérolas de faroeste. O guia costarriquenho é medroso, indolente, gordo e cochila na hora errada, com o walkman embalado num bolero qualquer. O vilão é careca. O chefe do vilão é hipócrita.
Tem até aquela cena do penhasco, sabe, quando os heróis estão entre o monstro e o mar?
Tudo bem distante do charme de que se revestia o impossível nos filmes de James Bond, por exemplo.
"Jurassic Park" foi tão calculado que o espectador nem tem paz para desconectar os neurônios. É a saturação do clichê.

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