São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Acusação quer exumar corpos da Candelária

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A exumação dos corpos dos oito meninos mortos na chacina da Candelária será pedida à Justiça pela acusação.
A exumação tem um objetivo: vasculhar os cadáveres em busca de balas que tenham escapado ao exame dos legistas do IML (Instituto Médico Legal) do Rio.
Se forem encontradas, as novas balas serão confrontadas com as armas dos réus e suspeitos de envolvimento na matança, ocorrida na madrugada de 23 de julho de 1993. As armas foram apreendidas pela polícia.
Vigário Geral
A acusação tenta repetir o que ocorreu no desenrolar do processo judicial de outra chacina famosa, a de Vigário Geral (zona norte do Rio), em agosto de 93.
No ano passado, os corpos de algumas das 21 vítimas da chacina de Vigário Geral foram exumados a pedido da assistência de acusação, também a cargo de Cristina Leonardo, coordenadora da ONG (organização não-governamental) Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes.
A busca teve sucesso. Foram achadas, entre os restos mortais das vítimas, várias balas que não constavam dos laudos periciais.
O exame de balística de uma das balas recolhidas nos túmulos concluiu que ela saíra da arma de um dos acusados pelo massacre.
A acusação espera que as exumações tragam novas pistas para o caso, reforçando as provas contra Nélson Oliveira dos Santos Cunha e Marcos Aurélio Dias Alcântara.
Cunha foi absolvido anteontem por júri popular reunido no 2º Tribunal. No primeiro julgamento, ele havia sido condenado a 261 anos de prisão. Alcântara está preso à espera de julgamento, que ainda não tem data marcada.
A promotora Glória Percinoto entrou ontem no Tribunal de Justiça do Rio com recurso, pedindo a anulação do julgamento em que Cunha foi absolvido.
No recurso, a promotora alega que, ao decidirem pela absolvição, os jurados contrariaram as provas existentes no processo.
A acusação quer ter os resultados das exumações antes de Alcântara ser julgado e do terceiro julgamento de Cunha, caso o júri que o absolveu seja anulado pela 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça.
Segundo as investigações policiais, a chacina da Candelária foi cometida por Cunha, Alcântara, Marcos Vinícius Borges Emmanuel e Maurício da Conceição Filho, o Sexta-Feira 13, todos policiais militares que integrariam um grupo de extermínio.
Sexta-Feira 13 foi assassinado há três anos. Emmanuel cumpre pena de 89 anos de prisão, pois foi considerado culpado pela chacina em dois julgamentos.

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